SENTIMENTOS

SENTIMENTOS

Fui voluntário em um barco hospital na região amazônica,seu nome era “samaritano” confesso que foi daí que tirei o nome para batizar o ônibus do “expresso da salvação”trabalhei na restauração dele,e depois fui convidado para fazer parte da tripulação que faria a primeira viagem após sua reforma.

O grupo era formado por enfermeiros,missionários e tripulantes.

O barco era lindo,ele tinha 39 metros,três andares,feito em madeira de lei,todo pintado em branco e azul.

Ficaríamos vários meses navegando pelos rios do baixo amazonas

Foi um dos períodos mais felizes da minha vida.

Não tinha preocupação com nada,pois só tinha três mudas de roupas e nenhuma conta a pagar.

Tomava banho no rio, amarrava uma corda presa de um lado à popa do barco e do outro lado presa a minha cintura,e me jogava na água,e o barco ia me puxando como isca de jacaré.

Quando tínhamos fome,armávamos uma rede na maré alta,e depois quando a maré baixava,íamos buscas as pescadas,tucunarés,piranhas,pintados e o que mais o rio nos presenteasse.

Pegávamos um facão e entravamos na mata para trazer um suculento palmito nativo.

O banquete estava preparado:arroz com tapioca,peixe frito e salada de palmito com limão.

Gostava de viajar no teto do barco,para poder observar os macacos de todos os tamanhos,os pássaros com suas infinidades de cores e formas,a floresta que se costurava com as águas e jogar tempo fora tentando me comunicar com as lindas enfermeiras australianas.

Mais o que gostava mesmo era quando o capitão Chico me convidava para fazer companhia a ele nas viagens noturnas.

Enquanto ele estava firme no leme,eu ficava na proa iluminando as águas e as margens com um holofote,pois em certos lugares é muito perigoso a navegação,pois as madeireiras cortam as arvores e jogam seus troncos dentro dos rios para serem levados pelas correntezas ate os lugares desejados.

Às vezes enfrentávamos terríveis tempestades tropicais,eu ali com uma capa de chuva amarela,com aquele enorme farol nas mãos,o barco gangorrando nos rebolos das águas e os ventos cantando entre as árvores.

Me sentia o próprio Jacques Custeau.

Em um entardecer,daqueles em que o sol fica avermelhado,chegamos a uma pequena vila que ficava no alto de um pequeno morro.

Fui o primeiro a pular do barco com uma corda na mão para amarra-lo no ancoradouro ,escutei os gritos de alegria das pessoas,que vinham correndo de todos os lugares em nossa direção,traziam cachos de pupunhas,açaís,bananas,raízes de mandiocas,carás e batata doce,eram os melhores presentes que as mãos e os corações podiam nos dar.

Os missionários chegaram!!!Os missionários chegaram!!!eram os gritos dos atalaias.

Enquanto percorria o carreador que levava ate a pequena vila,olhei

Para traz,que pintura maravilhosa!!,até parecia um quadro de Monet.

Mais eu tinha certeza que o artista que fez este,tinha muito mais talento,pois aquele retrato só poderia ser feito pelo CRIADOR.

O céu estava tingido de púrpura,o sol se derretia nas águas negras do rio Urus,os pássaros em alvoroço procurando um galho para descansar,e a conversa dos animais no meio da mata,como se estivessem dando boa noite uns aos outros e os botos quebrando os espelhos d’agua como seus saltos ornamentais.

Cheguei a uma pequena choupana feita de tábuas escuras,um velhinho estava sentando na varanda.

...taarrrrde.,boa tarde respondi.

O sinhô é instrageiro tamém???

Não,eu sou brasileiro,alias sou mesmo é mineiro!disse.

Mineiro donde???

De Ouro fino!

Ouro Fino!!esti luga existe???

Mais é claro,eu sou de lá.

Então adentre um poquinho,que quero lhi mostra uma coisa.

Entrei,sentei em um banquinho,ele foi lá dentro e voltou com uma eletrolinha,dessas antigas,forradas em corvim vermelho,ela era à pilha,mais ele havia feito uma adaptação com 2 fios que a ligava a uma bateria de automóvel.

Foi até o armário e tirou um envelope grande de papel bem surrado,tirou de dentro um disco empenado,e colocou pra tocar.

E me confessou:está é a moda qui di eu,mais gosto.

E no meio dos chiados começou a tocar menino da porteira.

Aquilo foi como um véu que se rasgou,uma cortina que se abril

Comecei a chorar, de repente lembrei de quem eu era,lembrei da minha história,lembrei da minha cidade,lembrei dos meus Pais,lembrei da minha família,lembrei dos meus amigos,lembrei até dos meus animais.e o mais importante lembrei quem sou.

Já havia muito tempo que eu estava fora,e já tinha esquecido o que eu tinha dentro.

Primeira coisa que fiz quando cheguei a cidade grande, liguei pra todo mundo que conhecia.

Sentimentos são feito bumerangue,por mais longe que o atiramos,sempre acabam voltando.