MILAGRE

MILAGRE

Tinha um sonho quando adolescente, possuir uma jaqueta de couro,lembrança talvez da minha infância ,quando meu pai chegava em casa em sua motocicleta Machles,e pendurava sua jaqueta de couro marrom e desgastada em um prego na parede,eu ia lá sorrateiramente ,a pegava e a vestia,subia em cima do MOTOR(era assim que chamavam as motocicletas no passado)e ficava acelerando com a boca,e viajando com a mente,sonhando com o dia que teria minha moto,e até planejava os lugares aonde iria com ela.

Comprei então minha jaqueta, me sentia o próprio Elvis com ela.

Pra mim ela tinha mais poderes do que a capa do Batman,era mais sagrada que qualquer manto sacerdotal.

Mais um dia, “algo terrível” aconteceu, o zíper estragou.

Perguntei a muitas pessoas quem poderia conserta-la, me informaram que a pessoa mais qualificada para tal cirurgia,era meu próprio pai,pois ele havia sido seleiro no passado.

E entendia da arte dos couros.

Só que algo havia ocorrido, já fazia tempos que a torre de Babel havia se desmoronado entre nós,pois não nos entendíamos mais,nossos idiomas eram algo totalmente estranho um para com o outro(isto geralmente ocorre na adolescência)

E nossos diálogos haviam se transformado em silêncio,como iria eu pedir algo para alguém que havia se transformado em um estranho mesmo sendo meu pai.

Fui então pedir socorro a única alma que eu nunca perdi o contacto:Minha Mãe,enquanto conversávamos,meu pai escutou e disse:porque você não joga esta roupa de bandido no lixo??? Fiquei ofendido pois tinha certeza que me vestia igual ao Roger Dawtley(vocalista do The WHO). Esta é a roupa que tenho da qual mais gosto!!!,respondi.

Meu pai se retirou mais uma vez em silencio, e eu fui dormir.

De madrugada fui despertado pelo cutucão de Deus (hoje entendo que foi assim) não conseguia dormir, escutei o chiado de um radinho de pilhas, segui o som, que foi em direção ao quarto dos fundos, onde meu pai mantinha ainda intacta sua sapataria,onde de vez em quanto ele ainda restaurava alguns pares de sapatos.

Cheguei de mansinho, ele não me viu, mais esta cena nunca mais deixarei de ver.

Ele sentado em seu banquinho, debaixo de uma luz de pouca claridade com seus óculos fundo de garrafa, com uma agulha na mão, costurando com precisão e delicadeza minha jaqueta.

Fui dormir,com a certeza,de que na manhã seguinte ela estaria consertada,

Demorou ainda muitas manhãs para que o meu relacionamento com meu pai fosse consertado,mas este conserto já estava sendo feito por outro Pai,que vim conhecer mais tarde,meu Pai celestial.

Depois entendi porque Jesus disse:quando sua mão direita fizer algo bom,que nem a outra mão fique sabendo.

Pois quando as pessoas recebem alguma dádiva,e não sabem de onde veio,elas atribuem isso a Deus.

É daí que começam a crer em milagres