FERIDAS

FERIDAS

Seria o acontecimento social do ano,fui convidado,não sei se por compaixão ou obrigação,afinal eu era empregado do pai da noiva.

Cheguei em casa todo saltitante com o convite na mão

Minha mãe então,se empenhou em me deixar devidamente elegante,foi ao melhor armarinho da cidade,comprou um belíssimo retalho de tecido azul claro,e em sua maquina de costura fez com todo carinho uma linda camisa.

Esperamos até o próximo sábado,quando o mascate passaria na rua e compramos uma calça de terbrim azul escuro marca Popoyo,engraxei meu único par de sapatos até brilharem como porcelana,tomei um banho bem demorado,coloquei o melhor desodorante que se poderia comprar no supermercado,betumei o cabelo com gel,e dividi o penteado do lado,o friso ficou tão bem feito que até parecia o mar vermelho se abrindo para Moisés poder passar com o povo hebreu,igualzinho aqueles quadros Bíblicos.

Corri para a igreja e fiquei na porta esperando a noiva chegar.

De repente fui avistado de longe por alguns garotos,vieram correndo em minha direção com seus tênis importados,bermudas de surfista e camisetas estampadas.

A Bíblia diz que a estultícia esta ligada ao coração das crianças,mais nunca imaginei que poderiam ser tão perversas.

Olhem só a camisa dele!! E sua calça kkkkk,que sapatinho bonitinho até parece o da Cinderela,e o cabelo,até parece que a vaca lambeu.

E riam até sair água dos olhos.

Saí dali correndo.... correndo...correndo,corria tanto que minha sombra quase não me alcançava.

Queria chegar em casa, e quando cheguei entrei no quarto,tranquei a porta e chorava,chorava tanto,chorava por não entender como uma machucado que não sai sangue podia doer daquele jeito.

Minha mãe chegou e perguntou:Porque você está chorando??

Eu choro,por que riram de mim!respondi em meio aos soluços.

Mais não tem problema não,quem sabe um dia Deus fará com que tudo fique diferente,pensei.

E quando isto acontecer eles vão ver,eles terão que me pagar,pois esta dívida ficou em minha alma.

Mais algo interessante aconteceu,como a picada de cobra e curada pelo próprio veneno da cobra.

Aquele veneno que entrou no meu coração,ao invés de me matar,ele me curou,criou dentro de mim um anticorpos,fiquei imunizado contra a imbecilidade, conta a estupidez de achar que as coisas tinham mais valor que as pessoas.

Nunca mais me senti com inveja ou superior a alguém,entendi que aquilo que fizeram a mim,jamais faria a ninguém.

E as coisas que passaram a ter mais valor para mim,foram os apertos de Mãos,os sorrisos sinceros,os abraços de saudade.

E que a maior riqueza que um homem pode conquistar são as amizades.

Há mas o mundo virou,como vira sem parar,uma hora você esta em baixo,outra hora você esta em cima,como roda-gigante.

E creio que por ter entendido a lição,passei na prova,e Deus me abençoou,pois sabia “Ele”que coisas jamais se tornariam donas do meu coração.

Muitos anos se passaram,e lá chegava eu novamente.

Desta vez como um conquistador Grego.(afinal meu nome é Alexandre)

Só que meu bucéfalo era uma enorme motocicleta marauder,cor branca perolizada,motor cromado,pneus faixa branca,e minha armadura uma jaqueta de couro com um emblema escrito “believer”que significa “crente” e uma insígnia no braço propriety of Jesus Christ.

E meu elmo era um capacete Belga,com ósculos de aviador.

Quem eu avisto de longe?,desta vez fui eu que vi primeiro.

Aqueles garotos haviam se transformado em gente grande como eu,e muitos daqueles que um dia tiveram muito,hoje não tinham nada.

Desta vez fizeram questão de me cumprimentar,com sorrisos amarelos,e olhos inchados de inveja(tinha aprendido a discernir os cumprimentos sinceros dos falsos,assim como se separa o joio do trigo)

Quando estava estacionando,passou um amigo de meu Pai e gritou

E ai?sapateiro!

Começaram a rir novamente, e perguntaram:Por que sapateiro???

Ora!porque sou filho do Chico Sapateiro!

Foi como água em uma fogueira,todos ficaram em silêncio,mas mesmo se dissessem alguma coisa não ia fazer a menor diferença,pois eu já havia aprendido na Bíblia.

Que a riqueza de um homem não se mede pela quantidade de bens que possui,porem pela qualidade do seu caráter.