A verdade nunca morre II - parte 3
Passaram-se 3 dias sem que Fred deixasse o hospital e ainda sem qualquer posição sobre o estado de saúde de Ana. Ele tem a alma rasurada pela dor; pelo florescer de uma boa noticia que ainda não aconteceu, ele quer ter seu amor de volta; tudo como era antes, a incompreensão da "dita" enfermidade o põe em estado depressivo; tudo tão rápido não pode ser compreendido de maneira simples, ele não tem certo desprendimento; Fred é um mortal, ou pelo sente que pode deixar de ser a qualquer momento, é inconformante o que ocorrera com a pessoa mais importante de sua vida. Numa tarde sem consolo, olhando para a face dela no leito, abre-se a porta, o medico com planilhas de informações parciais, adianta a ele que o bebê está no seu terceiro mês, a gestação ocorre como se nada tivesse acontecido, os batimentos, a formação física é saudável como em qualquer situação normal. Isso contribuiu para um alivio paliativo. Alguns quilos mais magro, barbado, com olheiras, um rosto pálido, passa semanas e semanas na cabeceira do leito, esperando que acorde, não desvia o olhar a espera de um momento que o felicitasse, não, ela não acorda, mal se mexe, não movimenta-se de maneira alguma, e mesmo assim ela não parece ter dor e nem que este momento é de desagrado, para o espanto dele Ana ainda parece ter um leve sorriso no rosto: Continua sua aflição por tudo isso...
Ana concluiu seu quinto mês de gestação num leito de lençóis brancos e laterais azuis, já movimentou toda a gama de médicos da cidade para poderem compreender seu estado, e nada. Certa vez quando Fred, muito angustiado, algo que vinha do seu estômago e
apertava o peito como se fosse o esmagar, mal se continha com esse sentimento tão horrível, estava aos prantos debruçado sobre a barriga
dela, sentiu um movimento que parecia um afago, era como se Ana passasse a mão sobre sua cabeça dizendo que nada mudaria o amor que sente por ele, que o ama como sempre amou, que esse verdade nunca morrerá, Fred percebe que é o bebê se movimentando, querendo
passar a mensagem da mãe, tão doce, tão suave, tão querida. A emoção que já tomava conta dele o fez começar a gritar por ela, sentiu que poderia sair daquela situação para tudo ficar bem e eles voltarem pra casa, terminar de arrumar o quarto do bebê, os moveis, as roupinhas os doces que ela faria para se lambuzarem e os dias que passariam juntos, mas era ilusório, ela permanecia ali, estática. Tomou ciência disso e passou acariciar a barriga; mais calmo sentia seu filho mexendo, já era o seu maior consolo. Por isso, pelas semanas seguintes ele se perfez apenas em descobrir junto aos médicos o que houvera com Ana e afagar sua barriga. Passam-se mais dois meses, é o sétimo mês de gestação, a barriga é grande e o suspense ainda maior, como pode alguém estar apenas com o coração batendo e sem vida, a não ser pela vida de um outro ser que vive dentro dela crescendo naturalmente em uma situação que mais parece uma morte sem motivos, mas não uma morte por completo. Por consequência de seus esforços o Dr. Paulo chega com a informação a Fred que Ana teve um mal súbito, talvez uma doença rara que ainda não poderia dar nome, mas que algo é certeza: "era pra ela ter morrido no dia em que deu entrada no hospital", só é inexplicável como ainda pode estar viva. Destaca que a doença é degenerativa, a consome gradativamente. Fred se emocionou ao pensar sobre o bebê, e perguntou porque nada acontece a criança que está por nascer; o medico não sabe responder, atribui a origens divinas, pois de fato não se explica tal eventualidade, tudo era pra findar-se, mas a circulação é perfeita.
Oitavo mês, parece que existe um misto de conformismo e tristeza que abate Fred, ele tenta de todas a maneiras, agora, estar ou pelo
menos portar-se de forma madura, pensa em contribuir fingindo sua dor, mostra nobreza, sabe segurar, aguentar o que lhe fora posto pela vida, é um homem não robusto só pelo físico, mas pelo carater que o impõe e o detém frente a sí e aos outros.
Faltando dias pra completar o nono mês de gestação ouviu-se certo alvoroço no quarto de Ana, os médicos estão todos as pressas indo
ver o que ocorre, Fred é chamado com urgência, ao chegar, vê, Ana movimentando-se, ele tenta algumas palavras, mas os médicos o retiram de lá e a levam pra sala de cirurgia, chegou o momento, ela está tendo contrações muito fortes, a vida quer falar mais alto neste instante. Fred é autorizado a ficar ao lado em quanto acontece o parto, tudo ocorre bem, o bebê que até então ele preferiu não saber o sexo, era uma menina, linda, a criança nasceu e quando chegou perto do rosto da mãe, feito uma luz que se abrira sobre leito, Ana abriu os olhos, sem força, virou a cabeça pra tentar sentir a filha, ao senti-la olhou pra Fred, ele chocado, não disse nada, Ana o olhou tão emocionada, seus olhos encheram-se de lágrimas, a lágrima que um dia fora tão iluminada, cheia de vida, dessa vez escorreu com ela sofridamente dizendo: "essa é a nossa filha, cuide bem dela, ela é a continuação da nossa verdade, do nosso amor, que jamais deixarei de sentir". Fred permitiu que suas lágrimas escorressem e aproximou-se do rosto de Ana, deixou um beijo de saudades em seus lábios... subiu o rosto, ela ainda, com os olhos brilhantes pelas lágrimas, tenta languidamente dizer sua ultima palavra, e disse: "Adeus". Ele se deixou chorar como uma criança irredutível ao que acabara de presenciar. Ainda sem desviar o olhar, ele pensou: "É tão perfeita por si só, adeus, minha menina". Neste momento, como se ela o ouvira, fechou os olhos e, o sinal da morte acusa o leitor de batimentos cardíacos; os médicos tentaram reanima-la, mas foi sem sucesso. Ficou certo que Ana apenas ficou viva para poder ter sua filha, a sua continuação. Ganhou o nome de Clara para celebrar os adjetivos que resplandeciam sua tão amável mãe... E Fred continuou sua jornada nesta que por alguns momentos hesitou dizer "vida". Se esforça pra ser feliz, mas só o é, porque ainda tem alguém a quem pode amar: sua filha.