A verdade nunca morre II - parte 2

É domingo, talvez o mais iluminado, mais pleno de todas as formas; São 9:36 da manhã, Ana acordara tão disposta pra vida, parecia uma

flor que desabrochou naquele instante, tão qual, o dia era propício a esse estado. Não faz barulho pra acordar Fred, seguiu até a cozinha, que para um apartamento era bem espaçosa, ligou o rádio em volume brando; já estava em sua estação preferida, ouvindo suas músicas em quanto prepara o café da manhã, pensa que seria interessante aproveitar o dia tão bonito e intenso que soou naquela manhã... Nem mais um pensamento passou pela sua cabeça, decidida, correu ao quarto para chamar o marido, interrompendo seu sono, disse: __Vamos, vamos, Fred! não podemos perder nem mais um minuto, olhe o dia como está! Sem nem ao menos abrir o olho, ele pestanejou: __"hummm" que, que está acontecendo!

__Vaaaamos Fred, levante!

__ Oh! já vou, deixa eu ficar mais um pouco vai!

Inconformada, as janelas do quarto são escancaradas junto as cortinas de tons escuros e encorpadas, de tecido macio, voaram para os lados causando ruídos. Ele com meias palavras, diz: __Já levantei! - mesmo com sua falta de vontade, Ana ainda recebe um abraço de bom dia, demorado, apertado e com sussuros de belos dizeres matinais.

__Mas pra quê mesmo você queria que eu levantasse?

__Ah, num pude evitar a súbita vontade de ir ao parque, ver o dia, pôr os pés descalços na grama, sentir mesmo como é estar viva!

__Mais viva que você está?

__É, olhe esse dia Fred, como é pleno, luminoso, seria uma pena não aproveitar. Vem, vamos, comecei a preparar algo pra comermos, além

disso, podemos comprar algo no caminho...

Os momentos mais completos, os sentidos mais sinceros, todos os seus desejos físicos, ela completou ao longo do dia, que foi extenso

para um domingo tão simples para outros mortais, mas não para este casal. Decididos a voltar pra casa após o perfeito idílio dominical, já

dentro do carro em plena avenida, calma como em todos os domingos, eles conversam sobre tudo, discorrem de maneira descontraída e muito alegre... porem aos poucos, Ana vai falando com a voz mais baixa e menos eufórica, mas nada que fosse notado, a não ser pelas

falhas na voz que começou a ficar lânguida, como se algo estivesse derretendo em sua boca, ou a própria boca derretendo. Curiosamente

olha ao relógio e são 18:01hs. Fred começa a assustar-se, acha que é brincadeira dela, pedi pra parar porque não haveria motivos pra brincadeiras de mau gosto naquele momento, uma vez que o dia tinha sido tão perfeito. Ela já não responde mais, e vira a cabeça em direção a ele mas sem força olha apenas de rabo de olho, tenta movimentar-se, mas é inútil, desfalece. Aos berros, o desespero dele é brutal em chama-la pra acordar, mas nada se resolve...

Abrem-se abruptamente as portas do pronto socorro que ficava a poucos metros do caminho de casa, no leito, os médicos a examinam,

mas nada constatam, não há sinais de absolutamente nenhuma enfermidade, o principal deles, Dr. Paulo, medico de Ana há anos

diz que é melhor Fred se acalmar porque deverão deixa-la de observação. Ele mal consegue responder ao Dr. mas pergunta:

__E o bebê? - o médico faz alguns segundos de silêncio, pois nem ele sabe o que ocorre, diz serenamente:__Vamos analisa-la mais algumas

vezes mas pelo que pude verificar nada ocorreu de grave, a gestão permanece saudável, e por favor Fred, acalme-se, nada poderá ser

solucionado sem mantermos a calma... Desolado pela falta de conclusão e por algo que aconteceu sem o menor aviso, deixa-se esparramar pensativo sobre o sofá de veludo azul tão confortável que fica no quarto onde Ana repousara. Embora tudo tenha ocorrido de maneira aberradora, ela tem no rosto uma expressão suave, é realmente indagante, parece não estar mesmo enferma, como se sentisse que nem todo mal tivesse acontecido. Ele, aconchegado no sofá põe-se a pensar sobre tal manifestação, tão avassaladora, pareceu destruir tudo. Sem palpites, dorme sem querer. Vê Ana levantar-se, arregala os olhos, embevecido, a chama, ela não responde, fugaz, olha pra trás com um sorriso, mas dá as costas e sai através da porta para o corredor desaparecendo, ele não crê no que os seus olhos vêem, num pulo com o coração saltando a boca, muito ofegante, rosto suado, olha para o leito, e solitariamente, lá estava ela adormecida, foi só um sonho, que o condenou a mais um pouco de dor, como se já não bastasse o que passara por essas horas tão enfadonhas. As lágrimas de um amante incondicional caíram num fluxo vertiginoso, soluça, mas pensa no conselho do Dr. Paulo: "é melhor se acalmar, para que haja alguma solução", pensa nisso por varias vezes e adormece novamente.