BÊBADOS INCÔMODOS DE SANTA CRUZ

Já estudamos, no ensino de primeiro e segundo graus, a Terceira Lei de Newton que enuncia: “A toda ação corresponde uma reação de mesma intensidade, mesma direção e em sentido contrário”. Na física é bem assim, mas, face a um porre de cachaça, as conseqüências são imprevisíveis.

A relação causa e efeito, no que se refere à bebida, obedece a critérios biológicos que não vamos aqui tratar. Sabemos, todavia, que existem os bebedores comedidos, parcimoniosos, que parecem estar no comando da situação, e, portanto, administram eficazmente os seus impulsos. Outros, mais sensíveis, não conseguem se impor face aos efeitos devastadores da branquinha.

Os efeitos da cachaça são os mais diversos. Existem aquelas pessoas que bebem quietos, e os que fazem uma barulheira infernal; os pobres que se tornam ricos; os tímidos que se extrovertem; os mais contidos, que sob a ação da cachaça se tornam conquistadores afoitos; os mansos que se tornam brigões; os insensíveis que se tornam chorões; os calados que falam pelos cotovelos e cospem nos interlocutores; e, simplesmente, os que importunam.

No Café do Galego, foi preciso que o séquito do Senador Fernando Bezerra, que se encontrava em campanha, viesse em seu socorro para, sutilmente, livrá-lo dos braços de Zezinho Caxiado, que cingiam o seu pescoço. Zezinho, que havia ingerido muita cachaça, relembrava as peladas dos velhos tempos de menino e, gratuitamente, elevava o Senador à condição de grande artilheiro. São os ossos do ofício.

Mas, os efeitos da bebida podem não ser assim tão incômodos. Déo, também conhecido por Fugão, era um bêbado que não incomodava. Pacato e romântico, ele fazia ponto no Bar 58 e vivia a cantarolar velhas canções de Augusto Calheiros: “Célia por você me apaixonei” – cantava. Todos gostavam dele. Chagas Lourenço o relembra em “Bêbados de Santa Cruz”, postado neste Blog.

Contam que nas noites de lua cheia, um praticante de uma dessas seitas africanas costumava fazer um trabalho de macumba, numa determinada encruzilhada da cidade de Santa Cruz (RN). Por puro temor, as pessoas costumavam respeitar. Ninguém queria se envolver com essas cousas místicas de macumba, mas, para Fugão, tudo isso se constituía numa verdadeira dádiva. Depois da meia noite – com a precaução devida – pegava o produto do trabalho que se destinava para o mal, mas que para ele só fazia o bem e fazia a festa: bebia a cachaça e forrava o estômago com uma saborosa galinha preta.

Há também os bêbados incômodos. Numa viagem cansativa, de Santa Cruz a Brasília, João Bezerra de Farias, Lila, com o intuito de fazer passar o tempo e despertar os ânimos do motorista Leôncio, propôs para este uma aposta: Cr$ 100,00 para quem disser primeiro o nome do bêbado mais chato de Santa Cruz (RN). E os nomes de bêbados começaram a ser elencados. Cada um dizia um nome. Quando Leôncio disse Geraldo Golinha, Lila reconheceu e pagou: você ganhou.

Um conterrâneo me confidenciou que encontrou Geraldo

Golinha no Grande Ponte, em Natal. Estava completamente embriagado. Trocou um dedo de prosa, e, imediatamente, Geraldo propôs que este fosse deixá-lo em sua casa, que se localizava em bairro distante: lá para as bandas de Nova Natal. E não adiantou nosso conterrâneo tentar esquivar-se. Geraldo o segurava pela camisa diante da menor menção de tentativa de escape. Não conseguiu escapar e Geraldo foi entregue à domicílio.

Contam que Geraldo Golinha, à época funcionário da Fundação SESP, chegou ao BIG BAR – antigo Bar de Baixinho – Luís Feitosa Lopes - que se localizava onde hoje está instalada a Farmácia Veterinária de Fernando Farias – e pediu uma cerveja.

Baixinho o atendeu com a presteza de sempre, apesar de este se encontrar bastante doente, portando um tumor já maduro, um pouco acima do peito. Geraldo, também conhecido por Geraldo Gabiru, tomou a primeira cerveja, logo pedindo a segunda. Quando o Baixinho trouxe a segunda cerveja, Geraldo Golinha, com os dedos estirados e convergentes na ponta, em formato de bico de pato, deu uma porrada no tumor de Baixinho. Baixinho gritou de terrível dor, ao tempo em que Geraldo Gabiru gritava o seu grito de guerra: Raus! Craus!

DJAHY LIMA
Enviado por DJAHY LIMA em 20/08/2008
Reeditado em 18/12/2017
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