Amambai

Saiba você seu moço, o que significa para nosoutros a cidade de Amambai. Amo suas ruas, ruelas, poças, barrócas e trieiros. Como diriam os antigos ‘nasci e me criei’ nesta cidade. Respiro cada pedaço desse chão onde piso. Conheço seus becos, suas entranhas, conheço sua alma. Sei o que a gente daqui sente. Quem não mora aqui não há de entender muito bem essa alma amambaiense e a paixão que nos desperta. Explico: É desta mistura de bugres, sulistas, correntinos e guaranis que se fez nascer essa nação com identidade própria. Como cidade tem seus problemas estruturais, mas o povo, ah o povo, queira você conhecer e com ele ter. Não encontrarás amizade maior em lugar nenhum. Final da tarde??? Se reúnem as comadres ao derredor do mate, em conversas muitas e maledicências outras, que são sãs mas não são santas. E o que dizer do tereré, daqui para o mundo, sim, não sei se você sabe, mas aqui é a terra do tereré, aqui ele encontrou sua moradia e outros povos trataram de importá-lo, emprestamos de bom grado até, até porque o tereré amambaiense carrega consigo aquilo que há de mais sagrado, o culto à amizade e ao convívio. Trate você de dar alguns passos pela nossa cidade e verás em cada esquina, uma cuia de guampa, uma bomba, boa erva, água abundante e risos muitos risos. Somos filhos dos ervais, sabia??? Por isso, somos ligados umbilicalmente ao tereré. Desta terra brotava o ouro verde. Sangue, suor, lágrimas, alguns risos, de muitos, foram derramados neste chão pra fazer ricos uns poucos. Apanhamos muito é verdade, mas nos libertamos e vamos pouco a pouco reconstruindo nosso sangri-lá. Não raro também encontrarás o ponteador, típico representante da nossa cultura, este toca com o sentimento que vem dos seus antepassados, traz no peito a alma guarani e a transporta para seus dedos, mágicos, velozes, como a significar por vezes o choro, o lamento, outras vezes a alegria do povo seu. Faz do instrumento seu porta-voz, ali você vai encontrar o verdadeiro sentido para um existir feliz. Mas repare bem, se esse tocar vem acompanhado de um legítimo ‘sapukay’, senão desconfie. E o nome, com todo respeito a você que mora não sei onde, mas não tem nome mais bonito e poético que amambay. “Amã”, significa chuva, “mba”, final de uma expressão, ou seja gota e “y”, a partícula final de ligação entre as duas palavras, me ensinou o mestre Antonio Delgado. Não entendeu??? Pois explico, amambai significa aquela gota de sereno que cai das plantas de folhas largas ao amanhecer. O orvalho. Quer poesia maior??? Mas trato de avisar não abuse da confiança, não nos chame para o limpo sem ter com quê e um sério porquê, porque então encontrarás a valentia em pessoa. Tinha uma vez um alcaide, roubou-nos. Expulsamo-lo de lá. Voltou com a força armada, queria entrar na marra. Expulsamos ele, a força e seus cupinchas, tudo de uma vez, eles nos seus uniformes e mosquetões quiseram nos botar medo, ah, ah, nós com pedras, porretes, mãos, orgulho, certos da verdade, que esta encoraja e dá força. No mais a tranqüilidade impera, prosa boa, bons causos. Se frio, o mate e o puchero, se quente, tereré, guaripola e mulher... se tiver.