Nhoc ou macarrão?

Olá, sou Rodrigo Silva, e é um prazer conhecê-lo, leitor. E venho aqui para desabafar, pois há alguns dias, passei por uma situação interessante... Ou confusa; talvez vergonhosa. Não sei se devo contá-la, não sei se é adequado, ou se não vão caçoar de mim.

Enfim, como dizia minha finada avó, não devemos ter vergonha de nossas ações. Mas juro que estou em dúvida se eu concordo ou não com ela. Talvez tenha razão, mas eu tenho vergonha... Pelo menos é o que eu acho.

Talvez o atento leitor já tenha percebido que sou um pouco indeciso, ou então ainda não reparastes! Mas deixando de lado os pensamentos do leitor, queria dizer que ser indeciso não é um defeito, mas também não é uma qualidade, se é que entende o que quero dizer. Concordas tu, leitor? Se não, digo que é uma pena, se sim, não digo nada. Ora, melhor entrarmos logo na situação, me decidi que irei contá-la, mesmo que depois me arrependa disso, que é muito provável que aconteça, mas direi. Agora que aticei-lhe a curiosidade.

Estava eu num domingo ensolarado, apesar de ser pleno inverno, num almoço em família, corria tudo bem... Tudo divertido, bonito, engraçado. Mas uma coisa me perturbava todas as vezes que ia comer em algum restaurante. Nunca sabia que comida escolher. Normalmente eu matutava durante algum tempo, na véspera, para que quando chegasse hora, não trepidasse e mandasse logo aquele belo pedido decidido. Mas naquele domingo em especial, havia sido pego de surpresa e não estava preparado. Foi justamente quando me dei conta disso, que o garçom chegou à mesa. Acredito que eu seja um incrível azarado, ou então isso é coisa da minha cabeça.

- O que desejam? – disparou o garçom que, na minha opinião, foi extremamente apressado, podia ter esperado mais uns vários segundos.

- Risoto!

- Arroz de bife.

- Picanha...

- Frango assado!

E quando percebi, surpreendentemente, todos já tinham pedido. E então, foi a pior parte do dia... Todos olharam para mim, o garçom com aquele maldito bloquinho e aquela caneta, os olhos inquisitórios perfuravam minha alma, perfuravam-me o coração. Senti minhas mãos suando, meu coração acelerando, o cardápio diante de mim com as letras a bailar, não conseguia mais ler, não conseguia raciocinar, estava em transe, em pânico. Uma só pergunta se repetia em minha cabeça, martelando minhas idéias.

- Nhoc ou macarrão? Nhoc ou macarrão? Nhoc ou macarrão?... E assim eu fui torturado por alguns instantes, que tenho quase certeza foram horas, ou dias.

- QUERO MACARRÃO! – falei, um tanto exaltado, falei sem pensar, tanto que quando o macarrão chegou, fiquei surpreso. Acredito que ainda não havia me decidido, mas a pressão era tão forte, mas tão forte, que soltei alguma resposta.

- E para beber? – senti um ódio mortal por aquele garçom, ele queria me torturar, com certeza. Queria que eu tivesse outro momento de confusão, e então, com toda a minha astúcia, declarei:

- Não quero nada para beber.

O garçom ficou um tanto espantado, é verdade, talvez pelas minhas respostas, e pela minha demora, mas enfim, comi, e fui embora. Pensei no ocorrido durante toda a tarde e toda a segunda-feira, mas na terça, já estava certo sobre duas coisas:

Eu me arrependi do macarrão, na verdade teria preferido nhoc; e eu passei sede naquele dia e um suco de laranja teria sido a melhor opção.