O HOMEM DO CORPO FECHADO...
Naquele vilarejo o cenário era muito parecido com os filmes hollywoodianos de velho oeste. Eram 9 h de uma bela manhã de domingo. Era um domingo de festa.
Dia 24 de junho de 1955.
Vindos da parte sul da cidade os irmãos Lopes chegaram galopando na entrada do pequeno patrimônio. Eles estavam vestidos a caráter. Belos cavalos, chapéus, trajes novos e legítimos de verdadeiros caubóis americanos. Entre eles havia uma moça, igualmente vestida. Todos olhavam admirados aquela comitiva. Uns com medo das badernas que eles sempre aprontavam. Outros com inveja de tanta elegância. Eles sempre impressionavam com a entrada. Principalmente nos dias de festa. Todos, eram seis irmãos. E a diferença de idade era bem pouca entre eles. José Lopes, o mais velho, era uma espécie de delegado na região.
Chegaram e foram direto para a quermesse, próximo da capela. Amarraram os cavalos, assistiram a missa na igrejinha, cheia de gente, e depois foram encontrar-se com os amigos e parentes. Beberam muito. Comeram churrasco e contaram histórias. Naquele dia havia até uma banda de música que tinha vindo da cidade.
E assim passou o dia. O Sol já estava se escondendo no horizonte quando, durante o leilão de gado, um dos irmãos Lopes começou uma briga com um peão, chamado Marcelino. Era uma rixa antiga. A discussão foi crescendo. Até que Marcelino ameaçou puxar uma faca. Então o Zé Lopes disparou um tiro à queima-roupa no peão. Foi um reboliço total, já estava escurecendo. Num piscar de olhos todos os irmãos já estavam reunidos e atirando no pobre Marcelino. Ninguém ousava apartar. O fogo das armas parecia raio lazer. Brilhava na noite. Marcelino mesmo assim levantou-se e conseguiu correr em direção ao núcleo ferroviário junto a estrada de ferro. Eles o seguiram atirando. Até que o chefe dos turmeiros gritou:
- Aqui dentro do pátio, não! Não quero encrenca. Podem parar! – colocando a mão no seu “trinta e oito”. Os Lopes respeitaram aquela ordem e voltaram para a festa.
Marcelino jazia desacordado sobre uma poça de sangue. Mas com vida. Para sua sorte nenhuma das balas havia atingido suas partes vitais. Conta-se que ele levou 22 tiros. Ele ainda vive e reside na cidade de Carlópolis. Bem velhinho...
Theo Padilha - 4 de agosto de 2008