PESCARIA DE CAIPIRA

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Você sempre me pede para contar causos daqui deste sertão, pois bem, então vou lhe contar mais este.

 Havia por esses cafundós do sertão, não me lembro quando, que não sou bom em lembrar datas, três caboclos, vizinhos de roça, que não perdiam uma boa pescaria. Era só sair, nos dias de folga, aquele solão esparramado, que lá iam eles pra beira do riacho. 

Certo dia, um dos caboclos, convidou os outros dois para uma pescaria em um lugar onde diziam haver muito peixe. Beirando aí às sete horas do domingo, os três partiram, pelo roçado adentro, para ganhar o novo pesqueiro.

No caminho, os dois caboclos convidados ficaram inteirados de que os peixes desse novo pesqueiro eram por demais ariscos. Era preciso muita manha para pegá-los. 

Chegando ao riacho, acocoraram-se na beira, acenderam um cigarrinho de palha, puseram as iscas nos anzóis e tacaram elas na água. Enquanto esperavam o peixe morder a isca, pitavam o fumo de rolo.

Passado uns dez minutos estacionados na rampa, um dos caboclos diz:

— Vigia só como a cheia ta alta. Qu’é do barranco? Quase sumiu, tão vendo?

Depois de passado outros tantos minutos, o outro caboclo responde:

— Virgem! E agaranto que em até de noite ainda sobe mais...

De repente, uma ave toda colorida e barulhenta atravessa, em vôo baixo, o riacho. Quinze minutos depois, um dos caboclos fala:

— Ixe!... Era um papagaio!

E continuaram em silêncio, esperando os peixes, fumando outro cigarrinho. Uns vinte depois, o segundo caboclo responde:

— Era não... era uma arara!

 E voltaram ao silêncio, a esperar os peixes que não apareciam, até que passada meia hora, o terceiro caboclo, que não tinha dito nada ainda, levantou-se devagar, enrolou a linha de pescar, bateu o capim e a terra dos fundos da calça, e disse para os outros dois:

— Ara! Vô imbora, que detesto discussão!

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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquercomentário.

Se vocêencontrarerros (inclusive de português), porfavor, meinforme.