A FESTA DA FRUTA
Velho Antonio Luiz. É desta forma carinhosa que as pessoas o lembram. Homem bom e justo, o velho Antonio Luiz era conhecido por sua forte opinião, talvez por esta qualidade, é considerado uma das memoráveis figuras do folclore de Santa Cruz (RN) e protagonista de muitos e prosaicos causos.
Na função de soldador, trabalhou muitos e muitos anos com o seu filho Bidu numa oficina de lanternagem até que, cansado da interminável rotina resolveu colocar em ação um antigo projeto: um comércio de frutas e verduras.
E estabeleceu-se, informalmente, na sala de sua própria residência, onde colocou mesas e expositores que tratou de municiá-los com frutas e verduras frescas ao gosto do freguês e com a cumplicidade da esposa iniciou a nova atividade
Os vizinhos eram os seus principais clientes e as vendas cresceram proporcionalmente ao crescimento da caderneta dos fiados. Não sei exatamente quais foram as causas, mas posso afirmar que a atividade mercantil não logrou êxito.
Fleumático, o ex-soldador fitava demoradamente as mercadorias expostas. Por sua cabeça passavam, desordenadamente, as lembranças do seu tempo de menino no campo; das travessuras e das escaladas nas árvores frutíferas, dos pés de umbu saindo da floração, da goiabeira e do cajueiro.
O velho Antonio Luiz chamou a mulher e deu as instruções: deveria chamar todos os seus netos – que não são poucos – e os amigos deles. Queria tê-los em breve na sala de sua casa, ou no salão do seu armazém das frutas e legumes.
Não tardou e a casa estava repleta da molecada ansiosa. Abençoou os seus netos e os amigos destes, que também o pediram a bênção, e sem mais delongas, esclareceu:
- Olha! Todas estas frutas serão de vocês, mas só quando eu disser sim. Eu vou lá para o quarto, não quero nem ver o desmantelo. Aí eu vou gritar – SIM – e tudo isso será de vocês, mas só quando eu gritar. Entendeu?
E tudo ocorreu como planejado. Lá do quarto veio o grito:
- S I M.
E a meninada fez a festa.