Como começar um texto...
Um dos principais desafios do escritor é vencer a barreira da página em branco, o que não é tá difícil, visto o papel, ou a tela, aceitarem qualquer bobagem que a gente neles imprima. Não sabendo como começar, escreva simplesmente a primeira coisa que lhe venha à mente, por exemplo:
- Oi! – Assim como se olha no espelho ao acordar, com olheiras, cabelo despenteado e aquele bafo de sapo morto que, se o nosso reflexo sentisse, sairia correndo. Felizmente o cheiro ainda não pode ser fotografado e nem filmado, o que livra a televisão de mais uma possibilidade horrorosa. Imaginem um filme de guerra com o cheiro de pólvora, ou dos cadáveres invadindo a sala? Embora tenha lido em algum lugar que os japoneses estão procurando criar alguma coisa no sentido – queira o Criador que fracassem.
- É pura falta do que fazer, papai. – Diria minha filha mais velha, dotada naturalmente de um incomensurável censo prático que me escapa. O que leva à dedução angulosa de que herdara da mãe a qual vive me despertando para a realidade das coisas. Sou bem-aventurado e Deus me enviou criaturas lindas que me resgatam das nuvens lançando âncoras na vida terrena; ou há muito eu já teria sido encontrado desfigurado, faminto e sujo sob as teclas quentes do meu computador.
Mas não foi a isso que viemos. Falávamos da dificuldade em começar um texto que pode ser poema, conto ou crônica.
Pularei a parte do poema visto não ser poeta embora me chamem de tal provavelmente por textos que terminem de modo nostálgico ou pela maneira proseada de escrever cantando o que configura hábito típico da região da qual venho e pertenço: os sertões de Goiás.
Surpreso fiquei ao ser abordado em terras paulistas sendo que me interpolavam: logo se nota que o senhor é de Minas pelo falar arrastado.
- Não sou mineiro, sou goiano.
- Ah! – Como se o ¨ah!¨ fosse de surpresa ou de admiração, reportando ao interlocutor que, além das saudáveis serras mineiras exista ainda um naco de civilização que se estende por cerrados goianos e pantanais do Mato-Grosso – ainda menos lembrado. A importância maior dos mineiros vem da proximidade geográfica e do sem número de talentos literários gerados nas entranhas de pequenas, belas e inesquecíveis cidadelas. Não me aborreço, afinal, todo goiano é um mineiro que migrou da Bahia e andou um pouquinho mais.
Vou assim descrevendo como se deve iniciar uma história sem inspiração, sem roteiro e sem noção do que se vai escrever. Digo que basta escrever como se conversa com um compadre amigo sob a sombra de um jacarandá, sentados em confortáveis cadeiras de palha, esperando uma das patroas servir o cafezinho quente, mas isso é demais para os amigos que não são do interior, que vivem nas cidades grandes castigadas por um montão de problemas e sem tempo de ver a vida passar devagar como as nuvens brancas do céu azul.
Como o amigo agora aprendeu a começar, vou ensinar a fechar o texto, só que fica para outra vez, mas vai uma dica: se você chegou até aqui é por que o texto foi bem andado!