Zé do Efeito
O Zé tinha um incrível dom de fazer gols de efeito. As pessoas que o viam jogar se encantavam com seus gols. E por isso, acabou recebendo o apelido de Zé do Efeito. Foi um achado o codinome, pois o identificava com seus belos gols. Na verdade, um apelido carinhoso. Ele ficou meio ressabiado no começo, mas depois, gostou tanto que acabou se esquecendo de que se chamava José Maria da Silva.
Foi numa tarde de domingo. Era a final do campeonato regional, o embate prometia muitas emoções. Somente a vitória interessava ao Cruzeiro do Sul, o time da casa e do Zé do Efeito, que naquele dia, estava no banco. Por isso, a tarefa não era das mais fáceis para seu time. O caminho era muito espinhoso, sobretudo porque o time visitante era favorito, mesmo jogando fora de casa.
O estádio estava lotado, a maioria dos torcedores gritava o nome do Cruzeiro do Sul. O lema era vencer e vencer.
No primeiro tempo os visitantes equilibraram o jogo. A partida estava muito igual, com as duas equipes encontrando dificuldade de penetrar na defesa oposta. Empurrados pela torcida, os jogadores do Cruzeiro do Sul seguiam pressionando em busca do primeiro gol. Mesmo assim, a primeira etapa terminou com empate de 0x0. Se o jogo terminasse assim, os visitantes seriam campeões.
Zé do Efeito voltava de uma contusão. Por ordem médica não podia jogar os noventa minutos. Talvez, jogaria alguns minutos, se o técnico precisasse dele. A torcida, insatisfeita, e com razão, gritava angustiada o seu nome, exigindo a sua presença em campo. Somente ele, com suas jogadas de efeito e gols salvadores, poderia resolver a partida.
Com o resultado desfavorável, o Cruzeiro do Sul, se atirava mais ao ataque. E mesmo assim, em praticamente, todo o segundo tempo, a situação permaneceu inalterada. Aos quarenta minutos, o alto-falante do estádio anunciou uma substituição no Cruzeiro do Sul: Entra Zé do Efeito no lugar do Chico. A torcida local vibrou. A galera sabia que ele mudaria o rumo do jogo, embora tivesse pouca chance, entrando no final..., tarde demais..., talvez.
A melhor oportunidade surgiu aos quarenta e cinco minutos. O Zé recebeu um lançamento longo, matou no peito, passou por dois zagueiros, entrou na área e foi derrubado pelo goleiro. Pênalti, marcou o árbitro. A torcida aplaudiu. Antevendo a vitória, gritou o nome do Zé e pediu para que batesse o pênalti.
Calmamente, ele pega a bola, leva-a a boca, ciciando algo, beija-a, e depois, ajeita-a no terreno e aguarda o apito do árbitro. O estádio inteiro fica calado. Todos os olhares fixaram-se nele. O juiz ordena, ele corre para a bola e chuta, a pelota vai se aninhar, mansamente, nas mãos do goleiro.
A torcida cruzeirense do sul solta um “oh!” de decepção. E se cala. Os visitantes vibram com o pênalti perdido, aplaudem o goleiro e vaiam o Zé.
Mas, no instante seguinte, quando o goleiro dá um balão, lançando a bola a um companheiro, ela rodopia no ar, toma efeito e vai parar nos fundos da rede. Um GOOOOOOOL....ecoou por todo o estadio, acompanhado de vivas ao Zé do Efeito.