Pedro caminhava pelos corredores intermináveis sem a menor pressa. Apesar de urbano,  a temporada no Tropical de Manaus não havia sido de todo ruim. O hotel era um luxo.  Vegetação abundante, discoteca, mini zoológico, milhares de opções de lazer e diversão.
Participou de passeios maravilhosos pelo rio Negro, nadou com piranhas  e o boto cor de rosa, brincou com filhotes de onça e indiozinhos. 
Presenciou  o encontro das águas e é claro,  desfrutou dos prazeres que o dinheiro oferece em festas regadas a bebidas finas e moças afetuosas.
Os amigos haviam falado da floresta ao redor do hotel e das trilhas em excelente estado. Bastava seguir as placas. 
Um bom tênis de caminhada e a mochila com várias garrafas de água mineral foram as únicas preocupações. 

Acordou bem disposto, após farto café da manhã ligou para o escritório confirmando a reunião ao  final da tarde.
 Enquanto entrava na  mata pensou nas piscinas com cachoeiras e ondas  artificiais e quase retornou para as espreguiçadeiras e mordomias. Pedro não gostava de bichos e tinha horror a insetos, o passeio foi um impulso encorajado pelos colegas.
Um bando de macacos em algazarra e as preguiças distraíram Pedro que continuou a caminhada.
 A floresta exibia a vegetação mais linda e exótica de qualquer local visitado, era única e especial. Imensas samambaias com mais de 3 metros espalhavam-se por todo o caminho.
 
Aos poucos o executivo de quase sessenta anos  relaxou. Admirou um formigueiro de quase um metro de altura, observou pássaros belíssimos em plumagens coloridas e indescritíveis .
O  silencio da mata cortado apenas pelos sons da natureza abundante em sua exuberante forma era quase irreal.
Pedro chegou a uma grande madeireira, toras imensas empilhadas no local abandonado. Pensou em quantas árvores haviam sido derrubadas .
 
Um crime que a todos fingiam não enxergar. Escalou um pequeno platô e descansou  enquanto observava  o píer e os flutuantes repletos de embarcações.
O pequeno cais fervilhava de turistas vindos do mundo inteiro escolhendo barqueiros e discutindo os preços dos passeios.
A imensidão do grande rio Negro gerou uma sensação de respeito e a noção do quanto era importante preservar aquele lugar. Nunca imaginou que o impacto da natureza em sua excência mais pura despertaria o brasileiro adormecido.

Pela primeira vez avaliou o quanto era omisso
Preocupado com lucros, trabalhava contra suas raízes ajudando a burlar  as leis de proteção ambiental. 
Seus clientes eram estrangeiros interessados em adquirir fazendas e terrenos na Amazônia. Nunca teve o menor escrúpulo em negociar.

O sol a pino queimava a pele clara,  desabituada ao ar livre, ao cheiro da terra úmida e viva. Durante vinte e dois anos viveu em um escritório gigantesco, protegido pelo ar condicionado gelado. 

Nunca havia provado frutas com sabores tão marcantes desde que pisara em Manaus. Açaí, taperebá, graviola e tantas outras delícias.

Havia viajado o mundo inteiro ,fechando negócios sem tempo para nada além de análises e contratos.
Sempre ocupado em hotéis luxuosos e jantares com grandes empresários. 

Sentiu-se cansado, o calor abafado, sufocante da hora mais quente do dia era difícil para os turistas.
 Ouviu o barulho da queda d’água e apressou o passo. A mata alcançava seu apogeu em cores vibrantes.
Os pés de jambo estavam carregados, provou a doçura da fruta.
O riacho era tentador, esquecendo qualquer precaução,  mergulhou na piscina natural.
Mal percebeu a chegada da moça tímida, olhar velado, aproximou-se de mansinho. Traços exóticos , usava um tecido branco enrolado no corpo esguio, descalça, naturalmente sensual.

Ela caminhou pelas pedras do rio, passos felinos, deslizando nas águas, cheirava a flores , frutas e essência da terra. O tom da pele morena avermelhada em contraste com a boca bem desenhada, provocante :- Você encontrou meu paraíso-Sorriu timidamente.

- Não pude resistir. É belíssimo e como você mesma disse, um paraíso. Sou Pedro, desculpe a invasão...
-Seja bem vindo Pedro.

-Pode parecer bobagem mas estou sentido uma grande emoção nesta mata.

-Dizem que a Amazônia desperta o que há de melhor nas pessoas.

-Além de linda possui sabedoria.

-Sou apenas uma defensora das matas, dos bichos e das  nossas raízes.

-Hoje percebi que minha vida inteira não vale uma árvore desta floresta.

-Não gosto de tristezas e acho que voce precisa se animar. Este recanto tem as grutas mais bonitas da região.Gosta de mergulhar?

-Claro. Já estive no Caribe mas mal pude aproveitar. Cavernas submersas nesta região? Devem ser fantásticas.
-São jóias ocultas. Os turistas e até o povo da terra não conhece este lugar muito bem.

-Então sou um homem de sorte, é a primeira vez que visito e encontrei  a melhor guia da selva.
-Nisso você tem razão, eu realmente conheço cada pedacinho daqui como se fosse minha casa. 


Pedro sentiu  uma atração inexplicável pela moça, não atendeu o celular que pareceu impróprio, queria passar o resto do dia com a jovem morena.
Brincar de explorador e quem sabe beijar a boca macia , tão delicada e sedutora.
 Nunca havia experimentado tão violento desejo, estava fascinado pela mulher e só pensava em aproveitar cada segundo da aventura.
 Ela  estendeu a mão convidando Pedro para o mergulho refrescante, estava nua e o homem também libertou-se das roupas. 
Eram  parte da natureza, em total comunhão com a floresta.
Pedro perdeu  as forças encantado com o brilho dos olhos da cabocla. 
Verdes como duas esmeraldas, cheios de promessas e segredos. Seu nome era Iara.
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O gerente da filial pediu notícias pela sexta vez e resolveu ligar para o escritório em São Paulo. Acionaram o GPS e começaram a mapear o local onde Pedro havia sido visto pela última vez, nada foi encontrado, nenhum vestígio, o celular estava jogado em uma pequena trilha próxima a entrada do hotel.
O lugar era completamente inofensivo e repleto de turistas e funcionários.
Haviam câmeras instaladas, a polícia local foi acionada e os seguranças da empresa chegaram para acompanhar as investigações. Pedro havia seguido uma caminho banal e na última imagem gravada do homem grandalhão, ele parecia feliz e despreocupado.
 
Não houve pedidos de resgate, nem chegaram a qualquer conclusão.
Pedro nunca mais foi visto nem seu corpo encontrado.
Existem lendas a respeito de uma cabocla que vive em uma gruta nas águas. 
Dizem que ela enfeitiça os homens...mas são apenas histórias de um povo que ama mistérios e uma boa aventura. Folclore que os filhos da floresta respeitam e sabem preservar.
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 10/06/2008
Reeditado em 19/06/2008
Código do texto: T1028412
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