Viagem mineira nas butina infeliz
"Lá pras bandas de Jisdifora, num trem de passageiro estava Zé incuidím num banquim bem lá no fundo do vagão. Parecia até que ele tava com o coisa ruim, tadim dele. Mas num era não. Nos seus péis a butina nova zangava seus dedins e amontoava eles tudim. O ómi tava caladim que dava até dó. Se via a testa dele suando um bucadim de tanto sofrimento.
Zé, vez ou outra, ispiava as butina e quiria qui quiria arrancá elas dos péis. Até que pelejô, pelejô mais num conseguiu, uai. Os dedim se amontoava um por cima do outro qui até latejava. Ele arredava os dedim pra lá e pra cá naquele aperto mais num rindia nenhum alivio, tadim. Os péis do ómi era omez qui pãozinho di quêjo sovadim. Procêis assuntá o tanto di dô qui ele tinha os joeim dele tremia.
Prestenção, o Zé tinha qui tá c'as butina novim afinal ele tava indo no casório do fio dele em Belzontch. Deusde rapazim que o fio Zélito tava se engraçado com a fia do cumpadi Chico. Eles eram um par bonito de vê!. Sápassado o Zélito contou qui ia si casá na igreja de Belzontch com a Zildinha, e aí foi que Zé teve qui si comprá um videperfume e essas butina. Óiprocevê qui ele não quiria não, mas o Zélito pediu e disse que as pracata não era sapato de casório. Foi aí qui Zé resolveu pelas butina. Quando ele voltou da cidade com as bota na mão, ele largou elas debadacama por dois dias. Dipois tentou calçá as infeliz e num deu conta, então largou elas trádaporta da cunzinha.Ele de um lado i as butina di outro. Foi aí qui o cumpadi Paulo chegou lá e pelejô com o Zé até qui feiz ele calçá as butina nova. E faiz treis dia que o Zé tá com essas infeliz nos péis. Cadiquê qui ele num tirô as infeliz? E quem disse que ele deu conta de tirá os péis de lá di dentro!? Bem qui ele pelojô, tadim. Se pegô até numas reza pra tirá os butina e num teve jeito, nem Deus ajudô.
Zé pegou seus trem e colocou debadospéis pra vê se aliviava as dô, mas di nada adiantou. O trem tava cheim cheim. Um calor demais da conta fazia o povo se enconstá aqui e ali. Inda bem que o Zé tava sentadim, já pensou si o ómi tivesse dipé com esses dedim tudo amuntoadim? Bem qui ele quiria ir no mictório mas não podia perder o banquim. Zé sortou a gravatim miúda do pescoço pra módi aliviá o calor. Mas a vontade di uriná foi crescendo e aí paricia que as butina pertava mais ainda. "Butina do capeta, sô. Aperta os dedim deu e junta meus calcanhá no couro!"
Zé ispiava e via lá longe o banheiro qui sempre andava ocupado. Mas prá módique qui ele se aguniava si ele num pudia se ir até lá, num é mêss? Ele qui si aquietasse no banquim dele.
A dor era tanta, a vontade di uriná era tanta, o calor era tanto que o coitadim começo a iscumungá o casório do fio Zélito. Era por causa de um tal de retratim que o fio quiria guardá de recordação qui o pai num podia di faltá no casório. E pra módiqui qui esses trem resolveram casá tão longe si eles moravam in Jisdifora? Uai, em Jisdifora tem tudim, tem igreja bunita qui só vendo! Tem jisdipaiz pra assiná o casório deles. E lá em Jisdifora o Zé num ía pricisá calçar essas butina infeliz. E por causa desse casório Zé também trocou de iscodidêntch, e a diaba era tão dura qui inchou tudas as gingiva do Zé. O coitadim num pudia nem tomá água que ardia tudo.
Mas o fio ia casá e isso era orgulho pro Zé. Afinal Zélito era o único fio do ómi viúvo. E a tal da Zildinha era também única fia do cumpadi Chico.
De repente chegou a estação de Belzontch e Zé si aprontou pra apiá. Juntou seus trem e se alevantou. Os joím balangava de um lado pro outro, mas Zé ficou firme. Os dedim gemia dentro das butina, mas Zé fingiu num assuntá nada disso. Pelejô um bucadim pra ficá dipé e dispois ensaiô um passim pro ladim, mas caiu dinovo sentado. Se alevantô, si aprumô dinovo e arrancou diveiz pra fora do banco. Com uma malinha de pano na cabeça, Zé se isprimía que nem seus dedim nas butina pra poder sair do vagão. Passou em frente do banheiro e aí a vontade di uriná aumentou. "Mas cumaé qui o bichim sabe qui aqui é o banhêro?" Num teve jeito, entrou lijêro no cubículo apertadim e si aliviou dessa aflição. Quando abriu a pórtim o Zé parecia mais coradim, tinha uma feição mais alegrinha. Mas pro desespero do ómi o trem já não estava mais na estação de Belzontch. Ele então oiô pro relojim di pulso qui o Zélito deu prele, e viu que as hora já ia bem longe do casório. Quando o trem parou na estação seguinte o ómi apiô lijêro. A sacolinha de pano nos braços, a gravatinha já ajeitadim, e as infeliz das butina qui num sussegava os pobre dos dedim: "É o capeta qui ta aí dentro dessas butina, só pódi di sê!".
Mas lá vinha o trem di vórta e Zé entrou nele num pulo só. Ficou espertim e desceu em Belzontch. As pernim dele bambeava e manquitolava mas ele não arredou do casório.
Na estação perguntou onde ficava a Capela Nossa Senhora do Rosário. A muié coçou a cabeça e disse qui era bem longe, pegou um papel grandão que ela chamou de mapa e mostrou: "Fica entre a São Paulo e a Amazonas". Zé amoleceu, bambiô, suava frio e branquiô. A muié segurou o corpinho magro de Zé e féiz ele si sentá, trouxe logo um copo com água qui Zé disse num ia guentá bebê procauso das gingiva qui ardia dispois qui ele usô uma infiliz duma iscodidêntch nova. Ela então quis saber o que acontecia e ele explicou sobre o casório do Zélito com a mocim Zildinha, e iscumungô dinovo as butina nova qui já fazia trêis dia qui torturava os dedim dele, e dispois disse: "O Zélito inventô esse casório aqui em Belzontch e eu mi isforcei pra chegá proque ele quiria um retratim, mas agora ir pra São Paulo e Amazonas eu num vô mess. Vô vortá pra Jisdifora!!"..."