Seria bem mais fácil

Você já imaginou? Imaginou o mundo mais colorido? Já imaginou se tudo que você quisesse, você pudesse ter em suas mãos, em seu domínio, quando bem desejasse? Você já imaginou se fôssemos mais fácil de se entender? Já imaginou se todos nós conseguíssemos compreender o que cada um está pensando, ou o que está se passando na cabeça do outro? Seria bem mais fácil. E como seria...

Seria tão mais fácil, se as perguntas tivessem respostas mais diretas, honestas, ao invés de desculpas esfarrapadas. Seria tão mais fácil, se pudéssemos olhar nos olhos de quem estamos falando, e não apenas falar com os rostos virados, na esperança de que o outro escute o que você vai dizer. Seria tão mais fácil se não tivéssemos um limite. Mas o limite existe. E chega um ponto que por mais que tenhamos ido longe, o sentimento desgasta, a emoção diminui, e o coração cansa de tentar achar a maneira mais certa ou mais fácil de se mostrar o que está tão óbvio, e a esperança que a certo ponto estava radiante, perde o brilho, e já não tem a mesma intensidade...

E quando o sentimento aperta? E quando a gente gosta tanto de alguém, que nem sabe se aquilo tudo não passa de uma fantasia? De uma cena de um filme que vimos semana passada? O fato é que sabemos, que é verdade, e pior ainda é saber que para um dos, é tão difícil expressar o que se passa, é tudo tão bloqueado, é tudo tão abstrato. Eu não entendo.

Dói. Dói saber que aquilo que mais queremos está bem ali do lado, sorrindo e conversando com a gente. E dói mais ainda saber, que tudo não passa de um jogo, de um disfarce, de uma ilusão. E quando a gente constrói um sentimento por alguém, por mais inútil que tudo esteja sendo, o coração não consegue disfarçar a dor que sente quando não é correspondido.

Procuro entender, procuro esperar, procurar por uma forma nova de entender, mas cada vez que procuro me encontrar, mais me perco. E quando o tempo passa, cada vez mais sinto que a saída, a luz no fim do túnel, já não está tão visível, e as paredes que me cercavam na sala de espera, já não estão tão decoradas.

E quando, sem opção, sem mais alternativas, sem respostas, sem saídas, a gente cansa? E quando tudo aquilo que tínhamos a certeza de que era o certo, parece ser inundado de repente? E quando aquele sentimento que era tão real, talvez cansado de atuar, percebe que tudo não se passou de um capítulo perdido num filme sem começo, meio, nem fim? E quando percebemos que é hora de dar um basta? Que chegou a hora de, reconhecer que fracassamos, e desistir?

Dói mais. Muito mais do que tudo que já sofremos para chegar aqui. Estamos terminando algo que nem ao menos teve início. Está sendo descartado, algo que nem ao menos pôde ser provado. E saber, que a amizade continua, é a pior coisa. Pois o coração vai ter que suportar a dor de ser enganado cada vez que estivermos juntos. Saber que já não dá mais, que já desistiu, mas conviver pra sempre com o fato de que era aquilo que ele queria...

A culpa? Não há culpados. Apenas um sentimento frustrado, um pequeno erro, um pequeno deslize, uma rua sem saída nos caminhos do destino. Não que não se pudesse construir um novo caminho, e achar uma saída para a rua, mas o fato é que as construtoras parecem estar muito ocupadas a construir cada vez mais ruas que de início parecem ser lindas, asfaltadas, floridas... Mas que ao se chegar na metade, percebe-se que estão ainda inacabadas.

O que posso fazer? Manter-me firme, apesar de ferido. Dar a volta, percorrer todo o caminho ao início da rua, e pegar a outra estrada, o outro caminho, a avenida principal, na esperança da busca. Na esperança de um dia, achar tal lugar, tal rua, que não seja um beco sem saída. Na esperança de achar esse endereço, cravado no coração, que apesar de tão vivo, parece não existir, ainda...