Carta de Saudade para meu amigo João Ferreira

Bem sabes como sou afeita as saudades.

Hoje rodeei-me da fragrância do recordar as boas amizades que a poesia foi me presenteando no decorrer destes últimos dois anos. Desdobrei lembranças, acendi os incensos que exalavam os aromas dos sorrisos compartilhados e revolvi as gavetas do tempo.

Tu és parte desses tantos caminhos que tenho percorrido. Pelas persianas dos meus passos sempre espreitaram-me teus olhares. Em vigília amorosa vibravas com meus percursos, incentivando-me o continuar. Não me perguntavas em que ruas caminhariam minhas letras. Liberta de rimas, guiada pelos ventos da inspiração, despia minhas mãos da poesia incontida que aflorava desde muito em mim. Apenas acompanhavas-me e quando as mãos hesitavam, contornavas-me com a motivação dos teus traços. A tua sensibilidade e sapiência andavam em meus rumos, amparando-me, corrigindo meus traçados ainda incipientes, mas plenos pelo desejo do aprender.

Tua crítica sempre bem fundamentada fez-me buscar caminhos outros, arriscando estradas literárias desconhecidas. Lembro-me dos teus comentários, onde buscavas oferecer a outros olhares, a nova linguagem que percebias minhas mãos falarem. E tecias tuas análises com os fios irrepreensíveis dos teus conhecimentos, combinando as cores da tua emoção com os matizes da tua erudição. Além do saber que detinhas, havia em ti o poeta que enxergava o além da paisagem das letras.

Sim, hoje o vento da saudade tateou e tatuou tua presença em mim.

Grata pelos tantos ensinamentos e pela tua existência, vezes repleta de mansidão, vezes com faceta de multidão, quando falas pelos meus silêncios.

Um beijo com a ternura que bem conheces.

Fernanda Guimarães

www.fernandaguimaraes.com.br

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 16/01/2006
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T99420