Como se fosse verdade

Eu me lembro de todas vezes em que você ia aonde era certo me encontrar e, ainda que fosse este seu principal intuito, fingia não me ver ou fitava-me apenas com o canto dos olhos, pois sua timidez e orgulho jamais lhe permitiriam demonstrar o que havia dentro de você. Contudo nunca o recriminei por estes pecados posto também os ter cometido.

Disto me lembro como se... fosse verdade.

Lembro-me também daquele instante único em que nossos olhares se encontraram através do vidro e ficamos estáticos, emudecidos, encantados pela reciprocidade confessada no silêncio. Como a crença na correspondência de nossos sentimentos confusos e sem explicação fizeram o mundo todo parar por um segundo a fim de que víssemos somente um ao outro.

Disto me lembro como se... fosse verdade.

Não me esqueço da forma como o destino costumava te lançar no meu caminho a cada segundo inesperado em que a sua aparição surpreendente acelerava todo meu corpo impulsionado por batimentos cardíacos descompassados. E também não me esqueço de quando largas horas de profunda tristeza eram destruídas por um sorriso causado pela simples consciência da sua presença.

Disto me lembro como se... fosse verdade.

Guardo em mim a certeza de que já não era suficiente tê-lo à distância e como em um impulso esqueci todo pejo para ir ao seu encontro. Guardo da mesma forma a nossa primeira conversa em que deixamos nuas nossas almas e falamos de amor através de meias palavras.

Disto me lembro como se... fosse verdade.

Recordo de suas fugas depois desta conversa para não se entregar a um sentimento que te prenderia, correndo o risco de algo não planejado impedir a concretização dos seus sonhos. Recordo de como você não conseguia se afastar por completo e fazia tudo para estar próximo, tratando-me, contudo, hostilmente e ferindo-me apenas por medo de se ferir.

Disto me lembro como se... fosse verdade.

Está ainda na minha memória a primeira vez que te ouvi pronunciar meu nome em um tom de voz tão tímido, tão baixo que apenas pude ler o movimento dos seus lábios.

E de tudo isto me lembro como se fosse verdade. Como se algum dia tivesse existido “nós” quando éramos apenas eu e você vivendo realidades completamente distintas. Como se eu não tivesse criado desculpas absurdas para transformar sua completa indiferença em uma história de amor que nunca existiu.

Larissa Lopes
Enviado por Larissa Lopes em 16/05/2008
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