MINHA QUERIDA A.

Mesmo que nossa relação acabou há muito tempo, sinto saudade de você e de seu corpo. Dos momentos felizes que passamos juntos, das brigas e do sexo gostoso que fazíamos. Acabei de pintar aquele quadro, lembra-se dele? Já lhe contei sobre ele já faz tempo... Naquelas noites de calor infernal, fui beber água e a vi sem querer no banheiro fazendo xixi. Como você estava linda sentada na privada; o ruído abafado do seu mijo parecia ser de um córrego distante. Tomara que goste. Envio hoje, amanhã chegará à sua casa. Estou acabando de ler o livro que me deu de aniversário Ai de ti, Copacabana de Rubem Braga. A crônica que mais me chamou atenção foi A Casa de 1957. Achei-a atualíssima, por abordar à mega exposição que a sociedade atual vive. Braga no texto comentou sobre as revistas de arquitetura da época em que viveu: “Como são bonitas essas casas modernas; risco é ousado e às vezes lindo, as salas claras, parecem jardins com teto, o arquiteto faz escultura em cimento armado e a gente vive dentro da escultura e paisagem”. Porém, ele acha que está muito velho para viver nessas casas modernas. É muita luz, as pessoas precisam aparentar que estão de bem com a vida sempre. Concordo com Braga, mas não sei se algum dia discordarei (ao decorrer do tempo mudamos o nosso modo de pensar). Estou num período de me entender, saber o que eu quero realmente. Almejo deixar um pouco de lado a rapidez do cotidiano e a obrigação de sempre viver na luz e aparentar felicidade. Deixando de especulações inúteis. Como está seu novo namorado S.? Aquele antigo namorado seu, parou com a palhaçada de ficar perseguindo você? Bem, termino por aqui... Desejo um feliz natal. Um beijo e abraço de seu querido amigo e ex amante.

Ps: A frase mais marcante dessa crônica é a última: “Casa deve se a preparação para o segredo maior do túmulo”. Todos nós precisamos ter segredos, faz parte da individualidade.

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dudu Oliva
Enviado por dudu Oliva em 15/01/2006
Código do texto: T99096