Carta para minha mãe.
Mãe,
Gostaria de começar a escrever esta carta usando a palavra "querida", mas não posso, pois há muito não sei o que significa essa palavra quando direcionada a você.
Gostaria de dizer que te perdoo, mas também não posso, pois o "perdoar" a quem não quer ser perdoado é tão infortúnio. De que adiantaria então?
E, porque escrevo afinal? Talvez pelo fato de que és minha mãe.
Mas então, porque escrever aqui? Talvez pelo fato de que essas palavras nunca seriam lidas se fossem entregues a você diretamente. Mas também não creio que as lerá estando aqui, neste local. Então, que outros a leiam e façam delas prosa e poesia.
Aprendi com muitos erros e acertos que a família é um bem quase insubstituível e que pode se acabar. Crescer sem família é como ter uma dor constante, principalmente quando já se teve família. Mas acredito que o pior é não ter condições de afirmar viver em família mesmo com todos debaixo de um mesmo teto.
Mãe, você escolheu uma vida muito indigna. Uma vida baseada em mentiras. E por muitas vezes disse estar arrependida. Mas feito um viciado em busca de saciar sua fraqueza, você colocava-se em mentiras novamente. Muitas vezes passei noites chorando e perguntando a Deus o motivo de tuas ações, mas nunca consegui chegar a tal resposta. E hoje vejo e sinto que não mais preciso de resposta.
Mãe, não tenho uma palavra de carinho agora. Talvez não a terei tal como acredito que deveria ser. Não vou agradecer a nada agora, por mais que eu tenha coisas a agradecer. Também não vou acusar-te em nada mais, mesmo que a vontade seja crescente. Nada. Nada.
Gostaria de não saber escrever, de não ter dons, de ser ou não...
Gostaria de escrever, de ter muitos dons, de não ser ou ser...
Gostaria de não viver uma metáfora, tão pouco uma antítese.
E minha vida, hoje, sou eu quem a faço. Meus passos, sou eu quem escolho. Meu caminho, sou eu quem o decido.
Sou eu e minha família.
Não posso voltar e refazer o começo, mas eu tenho sã consciência que posso tentar modelar meu futuro. Clichê, mas verdade.
Por mais incompleta que ainda esteja esta carta, assim ela ficará. Se prosa, poesia, paixão ou indignação, que seja, assim também o será.