"Tudo sobre Minha Mãe"
"...Minha mãe foi a primeira música que tocou no meu rádio. A primeira paisagem. A primeira pessoa que me falou sobre milagres e, sem palavra alguma, me contou sobre Deus."
[Pra Edna, minha mãe -Ana Jácomo]
Minha Mãe, quero lhe dizer que és uma mulher admirável. Por óbvio, que filho ou filha não diria isso de sua mãe? Mas, a meu favor, os fatos: Que mulher não seria admirável casando aos catorze anos, menina ainda, e assumindo a responsabilidade de uma família numerosa? Que mulher não seria admirável tendo parido, criado e educado dez filhos? Que mulher brasileira, nordestina e moradora da roça não seria admirável se exibisse no rosto corado dos filhos o resultado da luta contra o “mal de sete dias”, das doenças da miséria, da ignorância e desinformação? Que mulher não seria admirável se, mesmo parindo um filho quase todo ano, voltasse a estudar - junto com eles – e fosse trabalhar fora?
Lembro Mãe, que naquele período, dividí contigo a maternidade dos meus irmãos mais novos. Brincava, alimentava, cuidava da higiene, providenciava remédio quando necessário, procurava atender suas queixas, dava carinho e proteção, embora também fosse uma menina precisando de tudo isso.
Precisava da mãe também para pentear meus cabelos, olhar minhas roupas e meus deveres. Olhava-me no espelho e via a imagem do desamparo. Mas também me via crescendo, amadurecendo, agigantando-me diante das responsabilidades que a vida me impunha. Crescia, mesmo quando me escondia numa montanha de sonhos disfarçada de livros.
Aprendi, no exemplo de tua ausência, que isso era brigar pela vida, Minha Mãe. Aprendi a cuidar de mim, a não me encolher diante das dificuldades. A não me vitimizar. Desde então tenho me empenhado em alguns combates. Tenho tentado também aprender todas as lições da vida e atender, sempre que possível, o chamado da realidade.
Sempre penso em ti como uma leoa, ora defendendo suas crias, ora empurrando-as para a luta.Teu exemplo de trabalho e luta com nosso pai pelo sustento e manutenção da família unida, nunca será esquecido por nós, seus filhos e filhas. Aqui listo o que herdei da tua genética: o gosto pela música, o ofício de professora, curiosidade e disposição eterna para o aprendizado.
Reconheço-me no teu exemplo, mas como filhos e filhas agradecem pedindo mais, peço a Deus que a mantenha corajosa, briguenta e também generosa com os que estão a sua volta. Lembrando que sempre haverá tempo, Minha Mãe, para o aprendizado permanente do amor, da tolerância e da aceitação das pessoas como elas são. Todos nós temos virtudes e defeitos e a capacidade infinita de nos reinventarmos, sempre. Isso é ser gente e desta lição jamais esquecerei.
Espero ser para meu filho a mãe que és para todas e todos nós, seus filhos e filhas. Tenha certeza de que não te amaríamos mais, se fosses diferente.
Que Deus te abençoe, Minha Mãe!*
*Minha homenagem a todas as mães do mundo, na pessoa de Minha Mãe, professora Severina Lopes, que continua morando na roça e esperando, junto ao nosso pai, filhos e filhas, genros e noras, no almoço do fim de semana, nossa presença barulhenta, em sua casa.
"...Minha mãe foi a primeira música que tocou no meu rádio. A primeira paisagem. A primeira pessoa que me falou sobre milagres e, sem palavra alguma, me contou sobre Deus."
[Pra Edna, minha mãe -Ana Jácomo]
Minha Mãe, quero lhe dizer que és uma mulher admirável. Por óbvio, que filho ou filha não diria isso de sua mãe? Mas, a meu favor, os fatos: Que mulher não seria admirável casando aos catorze anos, menina ainda, e assumindo a responsabilidade de uma família numerosa? Que mulher não seria admirável tendo parido, criado e educado dez filhos? Que mulher brasileira, nordestina e moradora da roça não seria admirável se exibisse no rosto corado dos filhos o resultado da luta contra o “mal de sete dias”, das doenças da miséria, da ignorância e desinformação? Que mulher não seria admirável se, mesmo parindo um filho quase todo ano, voltasse a estudar - junto com eles – e fosse trabalhar fora?
Lembro Mãe, que naquele período, dividí contigo a maternidade dos meus irmãos mais novos. Brincava, alimentava, cuidava da higiene, providenciava remédio quando necessário, procurava atender suas queixas, dava carinho e proteção, embora também fosse uma menina precisando de tudo isso.
Precisava da mãe também para pentear meus cabelos, olhar minhas roupas e meus deveres. Olhava-me no espelho e via a imagem do desamparo. Mas também me via crescendo, amadurecendo, agigantando-me diante das responsabilidades que a vida me impunha. Crescia, mesmo quando me escondia numa montanha de sonhos disfarçada de livros.
Aprendi, no exemplo de tua ausência, que isso era brigar pela vida, Minha Mãe. Aprendi a cuidar de mim, a não me encolher diante das dificuldades. A não me vitimizar. Desde então tenho me empenhado em alguns combates. Tenho tentado também aprender todas as lições da vida e atender, sempre que possível, o chamado da realidade.
Sempre penso em ti como uma leoa, ora defendendo suas crias, ora empurrando-as para a luta.Teu exemplo de trabalho e luta com nosso pai pelo sustento e manutenção da família unida, nunca será esquecido por nós, seus filhos e filhas. Aqui listo o que herdei da tua genética: o gosto pela música, o ofício de professora, curiosidade e disposição eterna para o aprendizado.
Reconheço-me no teu exemplo, mas como filhos e filhas agradecem pedindo mais, peço a Deus que a mantenha corajosa, briguenta e também generosa com os que estão a sua volta. Lembrando que sempre haverá tempo, Minha Mãe, para o aprendizado permanente do amor, da tolerância e da aceitação das pessoas como elas são. Todos nós temos virtudes e defeitos e a capacidade infinita de nos reinventarmos, sempre. Isso é ser gente e desta lição jamais esquecerei.
Espero ser para meu filho a mãe que és para todas e todos nós, seus filhos e filhas. Tenha certeza de que não te amaríamos mais, se fosses diferente.
Que Deus te abençoe, Minha Mãe!*
*Minha homenagem a todas as mães do mundo, na pessoa de Minha Mãe, professora Severina Lopes, que continua morando na roça e esperando, junto ao nosso pai, filhos e filhas, genros e noras, no almoço do fim de semana, nossa presença barulhenta, em sua casa.