Carta ao amigo Mosa - Crônicas inéditas I - Manoel Bandeira (2)
 

Eu, meu amigo Mosa, percebi rápido e, espero em tempo, o grave erro cometido, mesmo que brincando, ao sugerir que o grande Manuel Bandeira pudesse ter plagiado o meu estilo de escrita. Agora sim, comecei a ler desde o início, mesmo que isso não fosse necessário dado a independência dos textos, o livro “Crônicas inéditas I” desse autor.

Impossível empreender uma marcha lenta na leitura, pois a delícia dos textos parece impulsionar nossos olhos e pensamentos em um tobogã untado e, sem perceber, cá estou eu na página oitenta e alguma coisa.

Descubro, lendo o livro, que Manuel Bandeira tinha uma profunda sabedoria sobre a arte da música. Sabia reconhecer, como poucos, as virtudes da interpretação dos artistas sobre uma obra musical. Com esse conhecimento e certa dose de generosidade ele vai descrevendo situações acessórias aos concertos e apresentações, que remete o leitor à paisagem do Rio de Janeiro da época, ou seja, entre 1920 e 1931. Imagine você, meu amigo Mosa, que nessa época a Segunda Guerra Mundial ainda não tinha acontecido e a influência da língua francesa ainda predominava na alta camada da sociedade.

O grande poeta e cronista faz referências a nomes hoje muito conhecidos, mas que na época eram ainda vigentes: Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Villa-Lobos, Guiomar Novaes, Francisco Braga, entre outros.

Ele faz menção, com certa crítica, à arquitetura incipiente no Rio “Estão construindo o primeiro prédio da rua do México, O propósito de manter aquela rua na mesma largura fica assim ostensivo, o que é para lamentar...”, diz ele na crônica “A estética da capital – Concertos”.

Enfim, acomodo-me na minha pequenez literária, e contento-me em devorar esse maravilhoso livro impedido, pelo saboroso paladar da leitura, de empreender uma leitura mais pausada e analítica no intuito de aprender com o mestre. Vou e volto nas crônicas, agora sem a preocupação da seqüência, alimentando a minha alma literária.

Meu amigo Mosa, recomendo, quando puderes, alimentar-se também da literatura de Manuel Bandeira.

Abraços Fraternais.