POESIA, VIDA, VERDADE

“PEDRA, PAPEL, TESOURA

A poesia quebra a dor,

que corta a vida

e embrulha na poesia.”

Flávio Miranda.

Flávio, poetamigo!

Agradeço a remessa do poema acima. Já estava estranhando a tua ausência na telinha. Os teus escritos são sempre bem-vindos. Recebo-os como um presente, um mimo que vai direto ao meu coração.

Está um bonito poema, mas a apresentação das palavras, inclusive a disposição delas, no título, está confusa. Aconselho-te a estudar mais profundamente estes versos.

O problema do autor novo é que ele fica somente no primeiro momento de criação – A INSPIRAÇÃO – em que predomina a emoção e o alumbramento do gênio criativo. Não chega ao segundo momento de criação: A TRANSPIRAÇÃO.

Este segundo ato criativo pode se dividir em vários momentos práticos em que preponderam as técnicas poéticas. Nesta fase se aplica o que se leu sobre o assunto e o que a vida acumulou na cabeça do autor. Se este é jovem, compreende-se que não tenha experiências acumuladas. Está buscando caminhos, acomodando o efeito da escolaridade e das leituras.

O poema tem de ser verdadeiro, conter alguma verdade perceptível ao leitor. É óbvio que é a pessoalíssima “verdade”, apenas a ótica do autor sobre tal ou qual assunto ou tema.

Esta tem de permanecer vívida na cuca do leitor, verdade palpável, exeqüível ou fingimento no mundo real. Necessita transcender ao subjetivismo de seu autor e se aninhar na vida de quem lê. É este toque diferencial que vai ficar impresso na memória.

E que talvez fique pra além da vida do autor. É ela a memória de sua passagem neste plano terreno. Não é nada mais nada menos do que isto que fazemos neste momento: discutir nossas pegadas no barro das vivências.

Estas memórias vivas relatam os roteiros do Homem e suas circunstâncias no tempo de viver. Embrulham pra presente o que ocorreu hoje. Às vezes este chega ao destinatário e permanece sem ser aberto, porque ninguém lhe deu importância ou faltou ousadia ao portador.

Quanto ao teu poema, a posteridade não me poderá acusar de ter sido omisso.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2008.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/964979