Bom dia
Hoje meu bom dia se destina especialmente aos avós, ao amor das nossas vidas, aos bancários, aos enfermos, aos seus próximos, aos que sofrem, aos que assistem, aos que apenas os assistem, aos novos corações, aos mais maduros, aos companheiros e companheiras, às senhorinhas viúvas, aos imigrantes europeus, orientais e africanos, a quem pensa só ter a si, a quem tem uma música brega no toque do celular, a quem pensa não ter a si, a quem se esconde e quem se encontra, a quem apaixonado comprou jornal sem razão, aos metalúrgicos sindicalistas, aos jardineiros caprichosos, a quem é feliz e não sabe, aos senhores grisalhos, aos sãos, aos que cantam, aos voluntários, aos multiplicadores da verdade, a quem foi e não voltou da guerra, aos que vêem jornal fazendo contas, a quem é batizado, a quem coleciona metais e não perde por esperar, a quem faz letras de amor, a quem não vota, a quem abre a porta do carro para a moça, aos motoqueiros inconseqüentes, a quem me diz bom dia, às cozinheiras, a quem está com o cartão estourado, às tartarugas e as chinchilas cativas, a quem trabalha com gente chata, a quem não tem pão, a quem tem febre, a quem condena, a quem tem braços e pernas edificantes, a quem trabalha em pé, àquele que dança tango, mas principalmente a quem dança forró, samba, coco, maxixe, caxambu, catira, a quem assiste novela, a quem brincou de barbe ou carrinho, aos papais de primeira viagem, às pessoas leais, a quem já leu e se emocionou com memórias de si mesmo, a quem ri quando lembra do passado, a quem ama ao próximo, a quem olha nos olhos, a quem come queijo ou caqui, a quem escreve, a quem imita o Freddie Mercury no banho, a quem gabaritava biologia nos tempos da escola, a quem lê, a quem recusou proposta de emprego, a quem anda sem relógio, a quem manda cartas e cartões de natal pelo correio, a quem não tem diversão de dia, aos que não conhecem o sol, a quem tira sarro do vizinho flamenguista, aos que não conhecem a lua, às lixas das bibliotecárias, aos que não são estrela, aos que não sentem frio, aos que gostam do pão francês da esquina, aos que já fizeram ioga, aos que já se assumiram medíocres, aos parlamentares enfadonhos, a quem usa dins, a quem guarda rancor, a quem aplaude, a quem estuda pra prova na véspera, a quem prefere macarrão a arroz, aos adolescentes estúpidos, aos que nunca tiveram consciência, a quem joga no bicho, a quem devolve o troco, aos que se reproduzem, aos que se alienam, aos íntimos sensíveis, aos que recriam as desigualdades, aos professores, às grávidas, à balconista antipática, aos que a julgam necessária, aos poliglotas, a quem conhece um cantinho paradisíaco dentro do planeta, aos bêbados escapistas, a quem tem família grande e faladeira, a quem usa o cabelo como estética, a quem celebra preces e curas, a quem já ouviu tema de Vilma, aos cães e gatos que nos suportam, aos que não se amam e matam, aos que tocam trompete, aos que dormem até às seis e meia, aos que inventaram o bandolim e a flauta doce, aos que choram, aos que merecem um sorriso: a todos.