"dizer do... que sou?"
RENASCIMENTO (carta)
Com tudo o que venho escrevendo, já hoje posso escrever, q.q.d. (quod queria demonstrandum – como queria demonstrar), ser a relação através da palavra um mundo à parte em relação à vida de todos os dias. O escritor não se deve sentir um ser nem estranho nem diferente, mas deve sentir essa estranheza e a sua diferença.
Quando soube que era escritor caiu-me uma labareda de fogo na cabeça, senti-me inundado de Luz e não me ardeu o cabelo: foi assim que descobri que era escritor. Tenho levado anos até acreditar neste milagre bíblico... Hoje então, até aceitei falar sobre ele, deixar que não acreditem em mim?
O meu nome é Mim, fui eu que o escolhi para assinar uma carta de amor. Na altura, como agora, não sei porque o fiz. Sei que ao fazê-lo pensei não o fazer (fi-lo sem escolha) e isso me pareceu impossível, por isso o fiz e foi possível. Não me arrependi e não me arrependo, apenas me interrogo: em que situação nos reinventamos ou nascemos, renascemos?
Sobre o Renascimento já muito foi dito, sobre o renascimento também, passamos a vida a falar das palavras que inventamos para registar as realidades criadas ou meramente representadas. Meramente me chega e, se já me chegava o que tinha escrito, agora acabo. Sei que nem parecerá uma carta, seja lá o que for..., foi o que consegui dizer do... que sou?
Personagem de mim,
Mim
{Agradecimento e des_envolvimento futuro a partir de comentário pedido e recebido em relação ao texto anterior:
Que eu saiba seu nome é William Sidney Porter. Existem outros textos dele que conheço, "A última folha" que começa assim: "Num pequeno sector a oeste da Praça de Washington, as ruas enlouqueceram e fragmentaram-se em pequenas tiras denominadas «travessas», as quais fazem ângulos e curvas bizarros." e um outro chamado "Pragmatismo Elevado" que começa: "Uma das coisas mais sérias desta vida consiste em determinar onde se deve ir beber a sabedoria. Os autores clássicos encontram-se desacreditados. Platão é um prato quotidiano; Aristóteles resulta titubeante; Marco Aurélio provoca náuseas; Esopo foi imitado por Indiana e outros; Salomão deixa transparecer solenidade excessiva e Epicteto não se consegue extrair nem com um palito." Ele nasceu em 1862 e morreu em 1910 na Carolina do Norte e existe um museu sobre ele na cidade Austin (texas) nos EUA. www.ci.austin.tx.us/parks/ohenry.htm Um abraço.
Enviado por Calaf em 07/01/2006 05:00
para o texto "sacrifício de amor"}