POEMA NÃO É MERO BILHETE AMOROSO

“Tarde demais!

Triturava remorsos entre dentes

cuspia bagaços de saudades...

Carmem Lúcia Andrade, Campo Grande/ MS.”

– remetido pelo Orkut em 17Abr2008, 23h07min.

Também ando com muita saudade de ti e de nossos preciosos amigos do associativismo literário.

Quanto ao poema, perdão, mas quando vais escrever um texto que não seja apenas um mero bilhete amoroso?

Este tipo de texto nunca vai chegar à grande palavra, à universalidade...

Procura ver o que diz Adélia Prado, Lia Luft, Lila Ripoll, Lara de Lemos e outras geniais mulheres poetas, vozes da contemporaneidade formal brasileira no século XXI, peço-te, encarecidamente...

O bilhetinho de amor é apenas confessional, não tem universalidade, só serve para funcionar aplacando a agonia do (a) autor (a) e recriando o mundo naquilo que lhe é hostil no plano do real.

Nenhum autor, em Poesia, canta o amor que ele tem e, sim, recria a realidade em versos para tomar, de plano, o amor que ele crê que poderia ter e não tem.

E isto é possessão, nunca a eterna Poesia. É um simples verso sem poesia, apenas o arranhar-se, o escavar-se dentro à busca do Amado...

A eterna Poesia é sempre gesto de dar as mãos à confraternidade, ao solidarismo, ao amor universal.

É necessário não confundir a doçura de um bilhete amoroso bipartite com os valores mais altos que caracterizam a Poesia.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 /2008.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/950774