Essa talvez seja uma carta de despedida, talvez...
Meu querido,
Essa calmaria me dá um certo medo.O silêncio profundo que reina a nossa volta, nem uma palavra, telefonema, carta...Nada! Você se foi de mansinho, assumiu sua vida de prisioneiro do destino, aceitou a cruz que lhe impuseram e acha que tem mesmo de pagar por um compromisso assumido. Sim eu sei, que pensa no carma e o acusa de ter-lhe imputado um resgate doloroso e espera ansiosamente que o destino se incumba de libertá-lo.
Oh, meu querido! Quanto é doloroso saber desses seus pensamentos e pior ainda nada poder fazer para confortá-lo. Vivo também acorrentada a modelos antigos e falidos de convivência;sou como você frágil e medrosa, mas esse silêncio, essa saudade, esse desejo...Ah, isso não posso matar em meu ser sedento de amor por você. Pergunto, embora saiba que ficarei sem a sua resposta: é justo isso que infligimos a nós mesmos?É justo corrermos todos os riscos, amar escondido, sofrer, chorar...Ouvir uma música, lembrar, sentir um perfume, desejar...Ah, meu querido, isso não vai poder continuar, ou tomamos coragem ou vamos mesmo silenciar para sempre esse amor que me deixa sem ação para viver uma vida mais plena, pois, atormentada pelo medo, pela angústia, pela saudade, pela solidão, pelas amarras de uma vivência oprimida, sigo adiante robotizada.
Essa talvez seja uma carta de despedida, talvez...