Caras pintadas de verde e amarelo, visto em mais preto e do que branco.

Cara Najsa,

Ontem assisti sua reportagem de denúncia do "trabalho escravo" nas lavouras de cana-de-acúcar destinadas a producão do Etanol no Brasil.

Foi um gesto de boa intencão, mas vamos para a parte que você não conhece.

Primeiro, as indústrias de maior producão do Etanol destinadas a exportacão e com com tecnologia de ponta estão na região de Ribeirão Preto e nenhum momento você mostou tais usinas, as quais o ministro foi levado pelo nosso Presidente Lula. Onde pessoas passaram pelo mesmo tipo de precariedade no trabalho e com a luta de pessoas solidárias e voluntárias, como padres, educadores, sindicatos e até mesmo os trabalhadores e ganharam o respeito e o direito de um trabalho digno.

Você mostrou a região do Nordeste onde ainda há esta prática de trabalho infantil e más condicões de trabalho digno.

O que você não sabe é que com o "boicote do Etanol" você estará desempregando toda uma região, que com o seu sangue, suor e lágrimas conseguiram ganhar direito do trabalho digno.

Com certeza você e os suecos irão dormir com a "consciência limpa" por ter denunciado este "lado negro" do meu país.

Você ainda se lembra do apelo do trabalhador de “Havainas”?

“Que os suecos usem bastante etanol para que nós possamos ter muito trabalho…”

Com certeza eles continuarão empregados em outras lavouras - como escravos…

Será que você voltará lá para fazer outra denúncia dos desempregados pelo seu gesto de coragem e bravura?

Você poderá dormir de consciência limpa, mas cadê sentimentos nestes coracões vazios?

Eu te falo tudo isso porque trabalhei com os filhos destes tabalhadores rurais que lutam para garantir aos filhos qualidade de vida melhor do que a deles, trabalhei 18 anos na educacão destas criancas em busca de um lugar ao Sol.

Eu penso que a Suécia deve cobrar sim o respeito ao Ser Humano, fazer com que o Presidente Lula não fique só vendendo Etanol e que ele faça valer a Lei dos direitos Humanos no Brasil, eu não apoio o que está acontecendo no meu país.

Eu só penso que quem lutou por direitos também terá que ter o direito de usufrui-los e na época você não estava no Brasil para ver o que cada trabalhador passou.

Eu sei que este é o seu trabalho.

Eu estou aqui na Suécia a pouco mais de um ano e vejo sempre o trabalho de denúncia de países que tem prática de abuso ao Ser Humano, acho louvável isto.

Mas, tem outra coisa que percebi neste pouco tempo que aqui estou - "Vocês sentam no rabo e fica falando do rabo do vizinho". Por que vocês não vão entrevistar brasileiras casadas com suecos?

Te garanto que você não encontrará nenhuma favela, mas encontrará maus tratos, trabalho forçado...Mas, faça um trabalho bem feito, não só entrevistando as que são bem sucedidas, garantindo este lado lindo e maravilhoso da Suécia que é vendido ao mundo. Fale dos estupros que aqui acontecem. Isto vocês escondem.

Desculpe o desabafo e até mesmo a agressividade, mas não posso ficar calada diante de tudo isso.

Outra coisa o trabalho aqui na Suécia não é tão eficiente quanto parece, estou aguardando o meu visto de permanência na Suécia e a Imigracão alega não ter tradutores para a minha entrevista.

Tudo é eficiência?

Durma de consciência limpa, mas corações vazios.

Porque no Brasil falta comida na panela, mas não falta calor humano.

No Brasil, se um estrangeiro tiver uma doenca é tratado sem perguntar de onde é e porque ficou doente pelo Sistema Público de saúde e eu estou aqui sem atendimento médico, sem atendimento a dentista e sem poder frequentar a escola para aprender o idioma porque não tenho os "quatro números".

Escrevi em português porque vi que você fala o português e eu demoraria alguns dias para traduzir tudo esse meu protesto e eu precisava deste sangue fervendo para denunciar a precariedade de seu país.

Espero que eu tenha retorno, que tudo isto não tenha sido em vão.

Com carinho que tenho pelo seu país onde escolhi para viver e se um dia tiver que defendê-lo o farei da mesma forma que faço pelo meu Brasil.

Gisaonline

Stockholm, 14 de abril de 2008.

gisaonline
Enviado por gisaonline em 14/04/2008
Reeditado em 21/10/2023
Código do texto: T944820
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