Epílogo
Não sei o que aconteceu.
Não sei muita coisa, nunca soube. Não existe a mesma vontade, o mesmo ímpeto.
Das asas, a liberdade. Era como se o azul invadisse, olhasse de dentro e percebesse o vazio. A falta e a indiferença.
As omissões, as mentiras. Verdades não ditas. O abismo que separa a realidade e nossos sonhos.
Eu fiz o que pude. Fiz o que não pude. Tentei de todas as maneiras entender. Entendi, por fim, não estar fora de mim o que era preciso entender.
Nada especial. Nada diferente. Não há nada a discernir. Melhor ou pior. Que seja digno de lembrança. Nada a ser esquecido.
Esquecer. Todas as datas, os momentos, as frases e palavras lembradas. As memórias que guardei, tendo-as por importantes. Não eram. Nunca seriam. Não há, portanto, o que esquecer.
Não vejo, não sinto, não penso nada agora. Não sou, nem estou. Deixei. Esqueci também. Não fez grande diferença quando foi, não fará agora que não é. Não há, enfim, o que esquecer.
Das memórias, alguma dor. Algumas noites perdidas, algumas feridas ganhas. Descobertas diversas. De um mundo vasto, mas do qual não faço parte. Não fiz e agora não farei: da dignidade que restou, antes, não por minha opção. Agora, por escolha - e escolho: esqueça.
Deixo tudo como estava, como está. Como nunca deixou de ser. Como nunca deixei de ser, hoje eu deixo. Deixo o que não pude ter. Tive o que não era para deixar. Não fui eu.
O que quer que seja, não importa. Não há mesmo algo a deixar. Nem a preocupação. Não há, enfim, o que esquecer.