"Por questão de sobrevivência"
Há mulheres que nasceram para amar, outras para inspirar e muitas tantas para apenas “existir”. Creio que me enquadro neste fascínio mundo das mulheres que teimam em apenas “existir”. Não me vanglorio por ser uma, entre outras tantas mulheres, fiz da vida uma constante escola, aprendi a viver com os golpes e acabei aprendendo a golpear, se bem que meus golpes nunca atingem com a mesma intensidade que atingem a mim.
Sou arredia, teimosa, compulsiva e extremamente agressiva, mas com a pureza que me detém o coração, nunca deixei que o ódio fosse o sentimento por mim expresso.
Sempre gostei do impossível. Não sei por qual motivo, mas ele sempre me atraiu. A facilidade não é atrativa aos meus olhos, e ao meu coração, receio ser o inacessível o mais aceitável. Veja só o meu relacionamento com a vida: ela me proporciona apreciar o nascer de um Sol inacessível, mas eu sei que estará no céu sempre que eu precisar de sua luz.
A ironia que a vida instiga é tão devassa que nem ao menos uma canção sobreviveu. As notas dissiparam-se assim como os meus desejos esvaíram-se pelos ares, feito nuvens estão esparramadas pelos quatro cantos do mundo.
Hoje não mais sou a musa que te inspira, não rondo seu sonho como dantes, não enfrento as madrugadas a roubar-lhe o sono. Não dispo minhas roupas em narrativas sensuais e nem ao menos “canto” o amor que me corrói. Apenas assisto ao mundo em que vive, apenas sinto ser a ausência hoje em sua vida.
Não darei à vida motivou para que ela me fuja. Não a deixarei galopar nas ancas da Morte.
Restou-me apenas juntar estes fragmentos de uma biografia, que a todo instante é reescrita. Restaram-me também o brio, a vergonha e a castidade de ser uma, e não outra.
Faço assim a minha vida, e por ela é que me julgo uma “sobrevivente”.