Merci Mon Père

Obrigado meu pai, por este cantinho que tu me deste. Agora, finalmente, depois de tanto tempo, tenho um cantinho e um violão.

O violão quem me deu foi sua ex-esposa, minha mãe. E a persistência de aprender lá uns tais dós e rés, foi o Pai lá em cima, porque tudo me dizia que, pelo andar da carruagem, era melhor eu tocar apito. Mas voltando ao cantinho. Obrigado mesmo, de coração. E porque não pegar carona no ensejo e agradecer também pelos passeios no Baepi, pela TiTerê, uma entre tantas, que era de fato muito bacana e me dava umas camisetas “da hora", como diz seu neto. E sua neta. Obrigado por ter me dito um dia, dia que eu estava apoplético de raiva, que eu jamais responderia à altura, porque não estava em mim me comportar como um canalha. E por ter me dito, noutra ocasião, em que apoplético também me encontrava, que às vezes na vida é melhor deixar o dito pelo não dito. Você nem imagina o resultado positivo que isso trouxe. E eu lembro ainda, nesta mesma ocasião, uma certa citação vinda de ti: galho ruim cai de podre. Todos caso, estou aqui no cantinho, o que tu me deste, vendo a torre Eiffel paulistana, ruminando nos mares que um dia tu me levaste para conhecer, uns verões que não tinham tamanho, as músicas, sim, as músicas, que aos 10 anos de idade ouvia através da sua percepção, Jorge Ben e Louis Armstrong, mais aquele cara que você gostava, o do Take Five, mais o Paulinho e o Antonio Carlos Brasileiro, Sergio Mendes e música no ar, maestro.

Obrigado meu pai, por nunca ter encostado a mão em mim, a não ser para demonstrar afeto.

Obrigado pelos jantares todas as quartas-feiras. Era um programão.

E obrigado também por aquela conversa que tivemos, ambos no balcão, último natal na casa do/a Marião (pois era assim que você chamava a vovó), uma conversa e tanto, último natal porque depois os tios se foram, sem avisar, afinal nem sempre a vida manda prefácio, e se manda a gente não percebe. De fato, há muito o que agradecer, mas com palavras, como diz o rei, não sei dizer.

Mas que destas palavras emane o sentimento de gratidão e que você as guarde com carinho, ciente de que eu sei muito bem que sem o seu consentimento, neste planeta eu não estaria. Mais uma vez, e quantas forem preciso, merci bien pelo cantinho, que eu vou regando devagarinho, já coloquei uma plantinha, e dois tatuzinhos de madeira, que uma índia aqui na frente faz e vende na avenida, uma filha de Deus como eu e você, com criança no colo e artesanato na cabeça, exprimindo em silêncio que “todos somos um” e deixando claro que a única coisa que vão nos perguntar, quando chegarmos do lado de lá, é o quanto amamos e o quanto perdoamos.

Valeu Jean Pierre.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 03/03/2008
Reeditado em 09/11/2013
Código do texto: T885351
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