Saudades

Tentei a corrida e corria feito um filha-da-puta achando que talvez fosse conseguir fugir de vc, do cheiro do seu cabelo, do barulho de sua risada, até da sua partida.Corri da dor, da saudades e da frustração e para correr da solidão me joguei em vários braços, perna, cochas, vulvas, todos corpos andantes sem coração.Soldadas luxuriosas com corpos esculpidos pela intensidade do meu desejo e pela suas gigantescas vaidades.

Das que eu me lembro, que mereciam algum nome, posso citar, mas sem contar nos dedos, algumas Fabíolas, Carlas, Joaquinas, Fabianas.Brasileiras, estrangeiras, e marcianas a quem fiz promessas de filmes romântico, mas a quem ofereci apenas histórias de filme pornôs, que pela agressão com a qual eu as possuía acabei por te tornar a mais pura diante dos monstros de mágoa que acabei por criar.Quando percebi que não ia pára lugar algum, optei por parar num lugar só.Lá fiquei parado enquanto a vida passava.Deixava que ela me levasse aonde quisesse planei como uma pipa enquanto o tempo me marcava, me tornei passivo por opção numa vida que não tinha nada do que eu havia escolhido para mim.

Meu carro não era o meu, não era na minha casa que eu morava, nem as minhas expressões eu reconhecia mais no espelho.

Já você, nos meus sonhos, se mantinha linda, forte, intocada pelo tempo e perpetuada pelas minhas frustrações, quem me via sorrir nem imaginava.Eu era a minha menor criação e a minha maior piada.

Seguia o protocolo do cidadão normal que de tão infeliz nem tem dimensão da sua insignificância diante dos seus próprios sonhos.Não conseguia ser herói, não conseguia ser vilão.Só consegui ser intenso na mediocridade.Não amei ninguém mais e esqueci de mim, minha mente era um filme velho aonde só se via uma cena: a sua.

Talvez a saudades tenha sido a minha doença, ninguém morre dela, pelo menos não biologicamente.Nela você só está vivo enquanto está sonhando, seu coração pára, mas você ainda respira, não, não há dores de cabeça, só apertos num peito vazio e um terrível branco que me tirou de mim e agora, quer levar seu rosto também.

Kátia Moraes
Enviado por Kátia Moraes em 26/02/2008
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