RÉU CONFESSO
Na verdade, escrevi isto à mão, noite dessas, quase como uma catarse...depois rasguei. Aí me perguntei, porque? Seria pelos montes de palavrões (que já tirei)? É censurável? Ou o que?
Pensei...vai que o medo fuça na net...e dá uma passadinha aqui prá ler.
Então sussurrei...Porque não?
Caro Sr. Medo,
Sua presença me incomoda, me entorta, faz transpirar, congestiona o intestino, enjoa. Já deu o sinal de sua graça em muitos momentos de minha vida, mas agora já passou dos limites...conheço a sua cara, seu sorriso mórbido, sua impaciência, seus batimentos. Já tirou meu sono, minha paz, minha transparência...em que mais lhe sirvo?
Já me apresentou seus parentes, aquele que vem de vez em quando, aquele que gosta de espiar, o que se faz de amigo, aquele que esconde na sua manga. Já conheço todos...e a você, meu medo permanente..conheço em detalhes.
Já mostrou seus dentes, sua força que aniquila, sua potência de desamparo, sua lentidão em caminhar. Já me despenteou, me deixou de cama, apagou minha luz, escureceu meu sonho. Me fez chorar. O que mais quer aqui?
Ok! Olho no olho então. Não te quero na minha vida, não permito sua presença em minha casa, entre meus lençóis, minha escova de dentes, no meu armário, meus tênis.
Xô!
Fora!
Xispa!
Rua!
Desembesta!
Sai daqui!!
Faça isso agora! Não te dou mais um segundo diante de mim, não te abraço nem que chore pra ficar, nem que esperneie, use de chantagem, armadilhas, máscaras. Nem que traga todo o seu bando de filhos esfomeados...não tenha onde morar, passe fome, pestes, epidemias! Ueréver!
MORRA!
Morra uma morte rápida! É o meu desejo pra você! Que suas pernas não se levantem pra dar o primeiro passo em minha direção novamente. Que seus olhos não me possam enxergar num raio de quilômetros. Que ao primeiro movimento de seus lábios ensaiando um sorriso apavorante, caiam os seus dentes...morda a língua, tenha uma paralisia facial!
Pensa que não sei que esta noite quase conseguiu? Não fosse minha intuição, teria deixado a porta aberta novamente, como naquele dia...lembra? Antes que desse tempo de trancá-la, você se jogou dentro da minha sala , sobre o tapete, e tirou os sapatos...gargalhando. Tirou férias na minha sala, no meu quarto, na cozinha, banheiro, na minha paz!
E eu ali, te olhando acuada, tentando entender qual era a graça; com o corpo todo trêmulo e paralisado, suando frio. Você é cruel Sr. Medo! O que é pior...ama a crueldade!
Sabe de uma coisa? Fique aí então...role de rir.
Cansei! Hoje preparei o teu veneno, aquele mais lento e doloroso. Sim, pensou que não conseguiria? Você pediu uma assassina e agora tem!
Cada gole!
Beba!
Antes que, de alguma forma, eu me simpatize com essa sua mão pelos meus ombros; e você, pela minha rebeldia.
Segure o copo.
Estou em contagem regressiva. E você tem só 2 dias para dar o último suspiro.
Ah...só mais uma coisinha: Não vou ao seu enterro. Posso sorrir. E cá pra nós, quem é que vai entender que a autora de um crime bárbaro é também feliz?
Quem Sr. Medo?