Sobre a carta que você me deu em mãos
Quando lábios se tocam e sabem que ficarão distantes, tanto pelo tempo quanto pelo espaço, o beijo sai tão doce, tão suave, que institivamente lambemos os lábios em busca de algum resquício, de algum gosto que torne a lacuna menos espaçosa.
Os pés pesados que deixam para trás um sonho seguem firmes, teimosos, sem fraquejar. São pés frustrados por não serem asas, mas ao mesmo tempo felizes por não serem pedras. E foi enquanto estes pés me guiavam que li as palavras que você deixou naquele papel.
Enquanto meus olhos liam o que a ponta da sua caneta desenhou, as linhas curvas da sua caligrafia pareciam se tornar as linhas curvas do seu rosto, que fica bonito de um jeito especial quando você fala olhando direto nos meus olhos. E toda vez que eu releio as palavras sinto que transgrido um pouquinho a barreira do Espaço e do Tempo, cruéis inspetores da nossa temporária situação.
Obrigado por meu portal de papel.