Cartas de Morte, Minha vida em uma noite Insone

A vida não passa de um sonho" Goethe

Sim, sou eu! inutilmente escrevendo o que sinto, se importa de ler? Não...

Não sei ao certo o que ia dizer. Não sei... Não confio em meu julgamento, O que achas?

Sou um fraco, um louco desesperado a procura de "algo". Não! Eu sonho!

Me ouça. Te procuro como Werther procurava morte. Te acho, acordo... com sua voz.

Não! Nada que eu falo tem sentido... Não sei. Estava perfeitamente tranqüilo quando comecei a escrever esta carta; agora, porém, choro como uma criança, o que decerto ainda sou. Não perca seu tempo, rasgue este papel como rasgaste o meu... O que digo? Devo estar louco! E te confesso, ando a ouvir estrelas! Perdi o censo! o caso é que para ouvi-las muitas vezes desperto e abro as janelas pálido de espanto... Bilac me dizendo "Amai para entendê-las" Já te amo o bastante, até demais. Por isso sufoco minha ira, meu desespero e as palavras de amor nunca ditas. Confissões me morrem na garganta. E outra vez Bilac. Não me ouça, ande rasgue logo, não vale à pena. A muito mergulhei na mesmice do meu melado romantismo. se insistires em continuar a ler, talvez saibas o nome deste alguém, que sobrevive à própria ruína vivendo de um coração, que parasita retalhos de ilusões e sonhos nele plantados, por ti quando em meu leito solitário, chorava lagrimas de chumbo entre as sombras da noite em larga insônia.

Insonia

Acordo! ... Não! Novamente atormentado tristemente solitário e egoísta, abandonado! Tremo diante do nada e de mim mesmo,

Cada vez mais fraco, languido e faminto. Olhar estático, inebriado. Ilusões, visões, suores noturnos. Meu corpo se degenera diante dos meus olhos, minha alma flutua sobre minha cabeça. E as dores, tremores, volúpia ardente escondida, beijos, carne se fartando de carne. Seios de anjo, meu anjo (se foi?) não! Nunca veio, nunca a vi nem a verei. A morte me levará antes, nada disso me foi reservado. Nada além da noite, das sombras e da solidão.

Palavras jorram da minha boca enquanto "sonho" e ferem quem eu mais amo... então tranco-me em meu mundo solitário! Aplausos às perdas do amor, ao escapismo, aos delírios. Aplausos à morte e à loucura aplausos às lagrimas de culpa que ferem meu rosto. Aplausos às lagrimas de insônia.

II

Posso me ver deitado(curvado) diante de um céu de incertezas, posso sentir as lagrimas queimando minha face. Estático posso ver seus olhos... São minha loucura, minha embriaguez. Alucinações, desejos. Desejo carnal, gemidos, Beijos, gozo, Mão languida e tremula acaricia. Ah! Posso ainda ver seu corpo na escuridão dos meus vagos sonhos caminhando distante. Posso te ver entres as estrelas... ah esqueça!

Desejos apenas desejos espalhados em minha mente tirando-me razão... não faço idéia do que sentes, simplesmente te amo. É certo que não tenho esperanças de que se realize algo tão irreal... Não! Novamente as dores, dores acorporais me ferem no fundo da alma, sangram, sangram nestas palavras que te escrevo e se materializam em meus versos sem sentido, em meus medos. Gritaria se pudesse. se pudesse espantar as dores que me ferem a garganta.

Estas letras de sangue, desejo ardente

Tiram me a paz, a dimensão

Rasgam-me as veias, escorrem livremente

Alimentam a dor, crescem na solidão

III

Novamente te escrevo, e "sem querer" estou tomando seu tempo. Se esta carta lhe for um incomodo não tenha receio, rasgue-a como talvez tenha rasgado a anterior...

Continuo sem saber o que dizer... Sim! Estou perdido, irremediavelmente tomado por um mal onde a cura e a doença estão na mesma pessoa, e esta a mim inacessível.

A tristeza e a solidão me fizeram o que sou hoje, você é a única realidade que me resta...

IV

Seria, Talvez, mais fácil para mim não considerar os sentimentos que me afloram agora ao pensamento. Sim, seria mais fácil sentir desprezo por mim, insano, doente. Me sinto pequeno diante de ti... então tenho um vislumbre da minha mediocridade. Desprezo, desprezo sim, a matéria, a carne que me compõe. Odeio este corpo limitado, odeio estes olhos limitados ao que eu quero ver, odeio por fim a realidade a qual fui designado: Solidão. Seu gosto amargo e quente, solidão. Meu delírio que nunca descansa, solidão. Flui pelo meu corpo inebria a minha mente, solidão. Tanto fere que domina o coração.

V

Novamente tú, delirio inconstante, à vagar pela minha

mente e embalar-me ébrio em teu seio...

Sinto o frio correr-me as veias e o soar de sua voz em

meus ouvidos. Tenho febre, talvez seja o veneno? Ou tua indiferença? Trava-me à boca o mel enjoado da vida...

Sinto-me vazio estando você tão longe... Ilusões apenas.

Morrer numa noite sonhando contigo, afogar-me nos teus lábios dormir e não mais acordar! Vês! Novamente nada que eu falo tem sentido. Nada faz sentido além dos teus olhos refletidos neste copo de veneno... Que longa vai esta noite e este delírio a lua vermelha se arrasta tediosa pelo céu enquanto procuro-te entre as estrelas...

VI

Das noites que sou atormentado

imagens decompostas que aos gritos me seguem

permanecem em minha mente, quando acordado

e de manhã seus olhos frios ainda me perseguem

se aproximam do meu rosto sussurrando em meu ouvido

... aproveite seus dias de morte silenciosa

cada dia ainda por viver de sua existência sem sentido

poderão ser uma morte lenta e dolorosa

afastando-se e deixando um vazio em meu peito

carregando junto consigo as lembranças

desse delírio Eterno em meu leito

no fim só resta a dor e um espaço

entre o que consigo lembrar

e meu eterno cansaço...

VII

Silencio... Nada se ouve além do som do mar, nada além do silente bater de um coração enquanto observo o céu vazio onde correm estrelas rasgando a escuridão. Bebi esta noite, Bebi até esgotar a ultima gota do fogo ardente que agora corre-me nas veias. Arde ainda fogo do vinho em minha mente, ardem-me suas ultimas gotas em meus lábios trêmulos. Ressoam ainda tuas palavras em meus ouvidos... E agora tremo contemplando o destino. A vida não passa de um sonho e toda filosofia é vã diante do sofrimento, diante da chama que se apaga em meus olhos. Sim! O mundo é belo, mas o que resta quando essa beleza não mais nos encanta, quando o ópio do amor não mais nos embriaga. Resta o vinho, o escapismo, o cismar triste e solitário, o spleen... E teus olhos! Não! Contradições de um ébrio fugindo de um mundo mais vão que sua existência. Sim! O mundo é vão! Tão vão quanto estas palavras... Já amanhece e a razão agora me volta aos poucos, e o que me resta esta noite? Entregar-me ao sono fugindo do teu rosto que brilha no céu pouco iluminado? Me entregar aos braços de uma perdida como outrora e me afogar na embriaguez de seus lábios manchados pelo passado? Resta-me apenas a embriaguez das palavras a poesia do ébrio que ama solitário

Esta noite, a lua outrora tão lívida

que iluminava meu corpo inerte

de onde se esvaia a vida

se avermelha agora, anunciando a morte

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 22/02/2008
Reeditado em 02/10/2008
Código do texto: T871211
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