PROCURA-SE (3)
Minha querida Carolina.
Espero que você esteja bem de saúde, assim como todos os seus.
Mudei o modo de escrever minhas cartas. Como posso escrever a quem possa interessar, se ninguém se interessa?
Então, Carolina, hoje resolvi que lhe escreveria; você, que é uma pessoa tão sensível, talvez atenda ao meu apelo e me responda. Por favor, Carol, não me telefone, não mande nenhum e-mail. Escreva-me. Apenas isso. Escreva-me! Se você não estiver com vontade de escrever uma longa carta, escreva-me apenas aquelas “mal traçadas linhas”.
Umas poucas, perguntando como estou, como vai a família, se melhorei daquela dor no meu polegar direito (ex em gatilho), “recém-operado” e já doendo de novo por causa do tempo excessivo que eu passo ao PC; daquela unha do dedinho do pé, que caiu por causa de uma caminhada longa com um tênis apertado. Pronto. Já está bom. Vou ficar satisfeita e achar que você se importa comigo.
Lembro-me com saudade do tempo dos telegramas. Sim, porque depois de uma carta a coisa mais agradável de se receber era um telegrama. Ora, o que representava um telegrama?
O que, senão que aquela pessoa estava tão ansiosa para falar algo, cumprimentar, saber notícias, rapidamente?
Que a saudade era tanta ou a notícia era tão importante, que não podia esperar o tempo de uma carta?
Depois as coisas evoluíram e vieram os fonogramas (ou fonegramas?), os telegramas por telefone: que maravilha! É claro que nessa época a maioria das pessoas já possuía um telefone, mas celular, será que já existia? Creio que começava a existir, mas poucos possuíam um...
O único problema com os telegramas é que eles eram usados para transmitir notícia de falecimento, que notícia de morte não poderia esperar o tempo de uma carta. Mesmo assim, às vezes , uma pessoa morava distante e não podia comparecer ao funeral. Então,mandava também um telegrama de pêsames... E, claro, não iria perguntar na carta seguinte:- E fulano(a), com tem passado? Veja a importância que tinha o telegrama para a vida social.
Lembro, inclusive, de que muitas vezes um telegrama era enviado quando alguém recebia um convite para um casamento mas, mesmo morando perto, não queria Ir. Simplesmente mandava um telegrama, esquivando-se de comprar um presente. Esse era um mau uso do telegrama. Será que por isso ele foi abolido? Os casamentos hoje estão em alta. As festas são produções animadas. Quem quer perder um casamento? Hoje até vale a pena gastar para comprar um presente. E ainda existe o cartão de crédito, parcelado em doze vezes... Quem vai perder a festa, então?
Um dia, eu queria fazer contato com uma pessoa que não via há tempos e resolvi enviar um fonograma, para fazer uma surpresa, algo diferente. Então descobri que os fonogramas não existiam mais...
Agora ando recebendo uns e-mails falando em telegramas, mas nem abro porque pode ser alguém procurando saudosistas para passar um vírus!
Carolina, você não vai acreditar. Eu escrevi uma carta e coloquei na escrivaninha de um site do qual eu participo, o Recanto das Letras. Sabe o que eu pensei? Que alguém que coabita o mesmo ciberespaço me respondesse, também, lá da sua escrivaninha. Eu teria um correspondente um pouco menos on-line e um pouco menos virtual do que os meus contatos do e-mail ou do MSN. Seria uma coisa um pouco mais lenta, não exatamente“up to date” ( “up to hour”, “just in time”), qualquer uma dessas expressões que andam sempre misturadas ao nosso falar cotidiano.
-“Você não acredita!” Sabe o que aconteceu? Não me levaram a sério! Acharam que eu simplesmente estava escrevendo uma carta falsa, uma carta-teatro, uma carta-crônica, não sei o que pensaram, porque ninguém respondeu. Acha!!! Num lugar onde todos respondem rapidamente a qualquer mote, a qualquer desafio, a qualquer novo tópico, não houve viv’alma que me levasse a sério. Bom, sendo minha amiga e me conhecendo como você me conhece, já deve ter adivinhado o que eu fiz.
Isso mesmo!!! Se não pode vencê-los, junte-se a eles. Assim, escrevo umas cartas sem graça, fazendo de conta que estou escrevendo para uma pessoa real. E, por mais incrível que possa parecer, creio que esse faz de conta agrada mais do que uma real troca de cartas (pobres cartas, que não terão mais vez em nossas vidas).
Sem mais para lhe contar no momento, vou encerrando por aqui, esperando que esta carta vá encontrá-la com boa saúde, e aguardando uma breve resposta (e não uma resposta breve, como eu coloquei no começo).
Receba um abraço de sua amiga saudosa.
Nilza
PS. Quando você virá visitar-me? Espero que seja antes da Páscoa.
Hoje pela manhã, estava meio desanimada, não consegui escrever
uma carta alegre, como gosto.
Minha querida Carolina.
Espero que você esteja bem de saúde, assim como todos os seus.
Mudei o modo de escrever minhas cartas. Como posso escrever a quem possa interessar, se ninguém se interessa?
Então, Carolina, hoje resolvi que lhe escreveria; você, que é uma pessoa tão sensível, talvez atenda ao meu apelo e me responda. Por favor, Carol, não me telefone, não mande nenhum e-mail. Escreva-me. Apenas isso. Escreva-me! Se você não estiver com vontade de escrever uma longa carta, escreva-me apenas aquelas “mal traçadas linhas”.
Umas poucas, perguntando como estou, como vai a família, se melhorei daquela dor no meu polegar direito (ex em gatilho), “recém-operado” e já doendo de novo por causa do tempo excessivo que eu passo ao PC; daquela unha do dedinho do pé, que caiu por causa de uma caminhada longa com um tênis apertado. Pronto. Já está bom. Vou ficar satisfeita e achar que você se importa comigo.
Lembro-me com saudade do tempo dos telegramas. Sim, porque depois de uma carta a coisa mais agradável de se receber era um telegrama. Ora, o que representava um telegrama?
O que, senão que aquela pessoa estava tão ansiosa para falar algo, cumprimentar, saber notícias, rapidamente?
Que a saudade era tanta ou a notícia era tão importante, que não podia esperar o tempo de uma carta?
Depois as coisas evoluíram e vieram os fonogramas (ou fonegramas?), os telegramas por telefone: que maravilha! É claro que nessa época a maioria das pessoas já possuía um telefone, mas celular, será que já existia? Creio que começava a existir, mas poucos possuíam um...
O único problema com os telegramas é que eles eram usados para transmitir notícia de falecimento, que notícia de morte não poderia esperar o tempo de uma carta. Mesmo assim, às vezes , uma pessoa morava distante e não podia comparecer ao funeral. Então,mandava também um telegrama de pêsames... E, claro, não iria perguntar na carta seguinte:- E fulano(a), com tem passado? Veja a importância que tinha o telegrama para a vida social.
Lembro, inclusive, de que muitas vezes um telegrama era enviado quando alguém recebia um convite para um casamento mas, mesmo morando perto, não queria Ir. Simplesmente mandava um telegrama, esquivando-se de comprar um presente. Esse era um mau uso do telegrama. Será que por isso ele foi abolido? Os casamentos hoje estão em alta. As festas são produções animadas. Quem quer perder um casamento? Hoje até vale a pena gastar para comprar um presente. E ainda existe o cartão de crédito, parcelado em doze vezes... Quem vai perder a festa, então?
Um dia, eu queria fazer contato com uma pessoa que não via há tempos e resolvi enviar um fonograma, para fazer uma surpresa, algo diferente. Então descobri que os fonogramas não existiam mais...
Agora ando recebendo uns e-mails falando em telegramas, mas nem abro porque pode ser alguém procurando saudosistas para passar um vírus!
Carolina, você não vai acreditar. Eu escrevi uma carta e coloquei na escrivaninha de um site do qual eu participo, o Recanto das Letras. Sabe o que eu pensei? Que alguém que coabita o mesmo ciberespaço me respondesse, também, lá da sua escrivaninha. Eu teria um correspondente um pouco menos on-line e um pouco menos virtual do que os meus contatos do e-mail ou do MSN. Seria uma coisa um pouco mais lenta, não exatamente“up to date” ( “up to hour”, “just in time”), qualquer uma dessas expressões que andam sempre misturadas ao nosso falar cotidiano.
-“Você não acredita!” Sabe o que aconteceu? Não me levaram a sério! Acharam que eu simplesmente estava escrevendo uma carta falsa, uma carta-teatro, uma carta-crônica, não sei o que pensaram, porque ninguém respondeu. Acha!!! Num lugar onde todos respondem rapidamente a qualquer mote, a qualquer desafio, a qualquer novo tópico, não houve viv’alma que me levasse a sério. Bom, sendo minha amiga e me conhecendo como você me conhece, já deve ter adivinhado o que eu fiz.
Isso mesmo!!! Se não pode vencê-los, junte-se a eles. Assim, escrevo umas cartas sem graça, fazendo de conta que estou escrevendo para uma pessoa real. E, por mais incrível que possa parecer, creio que esse faz de conta agrada mais do que uma real troca de cartas (pobres cartas, que não terão mais vez em nossas vidas).
Sem mais para lhe contar no momento, vou encerrando por aqui, esperando que esta carta vá encontrá-la com boa saúde, e aguardando uma breve resposta (e não uma resposta breve, como eu coloquei no começo).
Receba um abraço de sua amiga saudosa.
Nilza
PS. Quando você virá visitar-me? Espero que seja antes da Páscoa.
Hoje pela manhã, estava meio desanimada, não consegui escrever
uma carta alegre, como gosto.