Carta para Ti - IX
Nunca aprendi a calar a saudade. Preciso do murmurar da palavra. E ela pode vir através dos lábios de um olhar ou pelo idioma silencioso das mãos. Nada entendo de ocultar os arrepios que invadem meus olhos, quando me vens ao pensar. Apraz-me esta amorosidade que me habita a alma, a pele e que não permite emudecer em abandonos. Extasia-me este explorar da afetividade que corrompe minhas resistências e inebria-me a sensatez. Desaprendi de guardar ternuras nos sótãos dos adiamentos e não posso evitar os sorrisos que me chegam, quando estendo minhas carícias de sol nas brumas de tuas hesitações.
Gosto de perceber a emoção em cada extremidade do meu corpo, quando é a saudade de ti o meu percurso. O amor que há em mim, intensifica-se nos caminhos que se alongam para mais ainda te querer. Esqueço dos meus mapas em tuas mãos, para que me decifres em passos sem pressa, porque todos os meus destinos te aguardam.
Rendo-me aos sussurros que te falam das minhas entregas, dos meus quereres. Há em mim uma voz inquieta que se esparrama, ora em beijos, ora em abraços. Tenho em minha boca uma sede perene que se dobra impunemente à taça do sentir.
Vive em mim uma brisa que se deixa apenas soprar, se me abres teu coração, assentindo minha presença. Apetece-me os incêndios que provoco em teus frios, ouvindo a respiração incontida do teu desejo a me buscar. Mostro-te a vida do alto dos meus sonhos e provoco as tuas vontades súbitas que se entreolham nos precipícios de tuas fugas. Oferto-me para povoar os teus tantos vazios. No aconchegar do teu estar em mim é que se desenha a liberdade no céu do meu peito.
© Fernanda Guimarães