PROFECIAS DA QUINTA DIMENSÃO
"E quando o tempo das máscaras chegasse ao fim,
os homens buscariam nos céus um sinal,
e nas escrituras, uma resposta.
Mas não ouviriam trovões,
nem veriam raios,
porque a batalha que tanto temeram
nunca fora travada fora de si."
I - O DIA EM QUE AS VOZES SE CALARAM
E quando o som cessar,
e os céus se abrirem em uníssono,
haverá um zumbido leve,
o eco de tudo que foi e não será mais.
As cidades hão de calar,
os homens largarão suas pressas,
e as mãos que contavam moedas
se estenderão vazias, prontas a tocar.
Nesse tempo sem nome,
os olhos buscarão o céu,
e no espelho uns dos outros
lembrarão quem sempre foram.
Nenhum templo será mais alto
que a palavra dita com verdade,
nenhum trono mais forte
que um abraço ofertado sem razão.
As vozes se tornarão brandas,
as almas, nuas de orgulho e vaidade,
e enfim descobrirão:
que o simples basta, e sempre bastou.
E será nesse dia esquecido do tempo,
que o homem fará as pazes consigo,
com o outro,
e com aquilo que chamaram por muito tempo de divino.
II - O ESPELHO DA VERGONHA
E chegará o tempo anunciado pelas vozes antigas,
o Dia do Grande Espelho,
em que todo homem e toda mulher
será chamado a ver a própria face sem véu,
e não haverá sombra, canto ou mentira onde se ocultar.
Naquele tempo, os olhos se tornarão pesados,
o estômago queimará como brasa viva,
e a carne desejará fugir de si mesma.
Os corpos, envergonhados, se esconderão
sob mãos trêmulas, panos rasgados, paredes de barro,
mas nada os ocultará.
E ouvir-se-á um lamento profundo,
um som que virá não dos céus, nem da terra,
mas das entranhas da memória adormecida,
que se levantará como fera faminta.
As vidas passarão diante de seus olhos —
cada gesto, cada palavra negada,
cada riso disfarçado de desprezo,
cada criança ignorada na calçada,
cada mar poluído pela ambição.
Os homens recordarão dos oceanos mortos,
dos animais caçados pelo luxo,
das florestas devoradas pelo lucro,
e sentirão a náusea da própria sede de mais.
As lembranças das aldeias queimadas,
das línguas caladas,
das mulheres enforcadas,
das câmaras de gás,
das correntes nos porões,
dos filhos arrancados das mães,
virão como trovão em suas consciências,
e o sangue antigo falará das feridas nunca curadas.
Não haverá trono que resista,
não haverá credo que sustente desculpa.
As prisões terão outros nomes,
mas as almas saberão quem as ergueu.
Os corredores úmidos e as covas sem nome
serão relembrados,
e cada lágrima esquecida clamará por justiça.
Lembrarão das crianças vendidas,
dos velhos abandonados,
dos corpos mutilados por ganância,
dos pobres ignorados nas filas
e dos tiros que sempre encontraram os mesmos peitos.
As piadas de ódio,
as palavras revestidas de veneno doce,
os amores proibidos pela hipocrisia,
as travestis assassinadas nas madrugadas —
tudo será exposto,
como pergaminho rasgado sob o vento da revelação.
E então, até os que nada criam
se ajoelharão, não por fé,
mas por justiça tardia.
Os homens recordarão das guerras movidas por vaidade,
dos corpos infantis esfacelados,
dos exércitos marchando sobre vilas e lares.
Vergonha encherá os olhos
de quem antes se julgava limpo,
e o silêncio que outrora acalmava
se tornará insuportável.
Pois nesse tempo, não haverá santo,
não haverá mártir,
não haverá inocente.
A Terra, como uma mãe traída,
obrigará todos a olhar nos olhos da própria sombra,
e o universo, pela primeira vez,
mostrará aos homens o livro de seus atos.
Cada palavra cruel,
cada omissão covarde,
cada injustiça tolerada,
será lida em voz alta
pelos ventos antigos.
E não haverá defesa.
Apenas um choro coletivo,
uma culpa que atravessará gerações.
Mas na poeira desse colapso moral,
um sopro tênue surgirá.
Pois só quem reconhece sua monstruosidade
pode, enfim, buscar ser humano.
III - DO ANTIGO PARA O NOVO
Depois que vergonha ruir os corações humanos,
chegará o ciclo em que o som cessará,
e as vozes humanas se calarão diante de si.
Um véu há de cair, e os homens e mulheres
verão no espelho dos próprios olhos
as marcas daquilo que foram e escolheram ser.
Na quietude que se seguirá,
as muralhas erguidas por cor, crença e ideia
desabarão como areia ao sopro do deserto.
E aqueles que antes guerrearam por nomes e deuses,
buscarão o silêncio uns dos outros,
porque só nele restará a verdade.
E uma teia feita de luz sem nome
surgirá entre corações despercebidos.
Ninguém a nomeará,
porque nome algum poderá conter seu sentido.
Mas todos a sentirão,
como o sopro antigo que une a folha à árvore,
o rio ao mar, o céu à terra.
Nesse tempo, antigos líderes perderão sua voz,
as leis se tornarão pó,
e os conceitos de bem e mal se dissolverão
como névoa ao primeiro sol.
Pois descobrirão que o mal nascera da dor,
e o bem, tantas vezes, do medo de ser condenado.
As almas, por fim despidas de seus rótulos,
compreenderão que a única escolha verdadeira
sempre foi entre permanecer na sombra
ou atravessar o desconhecido.
E quando isso acontecer,
o mundo estará suspenso,
nem velho, nem novo.
Serão como crianças diante de um chão
que já não reconhecem,
e de um céu que jamais olharam de verdade.
IV - O FIM ANUNCIADO
Na alvorada de uma nova era, uma nota inaudível será entoada,
não pelos céus, mas do mais íntimo de cada peito cansado.
Será o chamado da Alma Ancestral, há tanto esquecida,
convocando os filhos da terra e da estrela a acordarem.
E as estruturas cairão, não as de pedra ou aço,
mas as erguidas em conveniência e medo.
O tempo das máscaras chegará ao fim,
e aquele que tentar ocultar-se será sufocado
pelo peso de sua própria negação.
A fome, a guerra, a peste e a morte cavalgarão de novo,
não montadas em bestas aladas, mas
disfarçadas nos hábitos, nas leis, nas telas,
nos silêncios de quem podia, mas não quis.
O Antigo Enganador, a quem tantos nomearam e temeram,
não virá de fora, mas brotará dos próprios corações.
Será visto nas palavras do condenador,
no luxo que se alimenta da miséria alheia.
E então, reconhecerão:
o traidor foi, desde sempre, a estrutura
que os homens erguem quando escolhem
o conforto da mentira ao invés da ferida da verdade.
E o salvador e redentor que tanto esperaram
não virá das nuvens, e nem de carruagens aladas,
mas surgirá no olhar dos que se despirem de si,
no gesto de quem se reconhece no outro.
O Céu e o Inferno, então, deixarão de ser lugares
e passarão a ser estados.
A eternidade será o agora.
E a grande batalha final não se travará com armas,
mas com escolhas.
Cada ato, cada silêncio,
cada recusa e cada compaixão
serão os tijolos da nova realidade.
V - O PRELÚDIO DE UMA NOVA FREQUÊNCIA
Quando o Eterno e o Caído
habitavam o mesmo templo,
e a guerra que atribuíam aos céus
não passava de um embate de consciência,
uma dança de luz e sombra
que os homens fingiam não enxergar se dissipou,
em uma nova frequência ressoaram.
Naquela nova dimensão que passaram a ser parte,
as contradições se tornaram tão insuportáveis
que até os mais fervorosos cairiam de joelhos,
não para orar,
mas para suportar o peso da verdade, sendo assim,
pararam de alimentar o demônio
que juravam combater.
O Amor, antes verbo esquecido,
se revelou não como promessa de recompensa,
mas como coragem de aceitar
que luz e sombra são companheiras
e que ninguém foi feito para existir apenas em uma delas.
A grande verdade universal se cumprirá
e o homem deixará de buscar lá fora
o que sempre foi escolha sua.
Abraçará o anjo e o monstro
que carrega no peito,
e entenderá que o verdadeiro paraíso perdido
foi a coragem de ser inteiro,
sem precisar de um nome santo ou profano
para explicar sua própria humanidade.
VI - O RESSOAR DE UMA NOVA ERA
E o fim não veio em fogo ou espada,
mas no silêncio que desfez certezas.
O verdadeiro arrebatamento foi íntimo,
rasgando véus, ruindo tronos invisíveis,
derrubando as prisões construídas no peito.
Então, um novo conselho se ergueu.
Sem reis, sem líderes, sem altares.
Guardiões de uma nova terra e dimensão,
porque entenderam que governar
é cuidar do outro, da terra e do tempo.
As religiões dissolveram seus muros,
livros sagrados tornaram-se poesia,
e Deus passou a habitar o gesto,
a escuta, o respeito silencioso,
a compaixão sem moeda de troca.
Céu e inferno mostraram-se irmãos,
luz e sombra, faces do mesmo sopro.
O homem, enfim, deixou de buscar fora
o que sempre foi escolha sua:
ser inteiro, sem nomear o bem e o mal.
E assim, sem anjos vingativos,
sem profetas absolutos,
o mundo respirou um novo ar.
Não perfeito, mas mais humano,
e pela primeira vez, livre.
VII - A EXISTÊNCIA NA QUINTA DIMENSÃO
E quando o tempo perdeu sua pressa,
os sinos do Velho Mundo silenciaram.
Não houve anúncio em nuvens rasgadas,
nem anjos em trombetas douradas,
mas um sussurro antigo,
soprado no coração das crianças,
lembrando o que a humanidade havia esquecido.
O Novo Tempo não chegou com guerras,
mas com o cessar delas.
Veio como brisa em manhã de orvalho,
despertando suavemente os olhos que antes apenas viam.
E então, as escolas se tornaram jardins de alma,
onde se ensinava o idioma das emoções
e a arte de sentir sem medo.
A Terra, antes ferida em silêncio,
passou a cantar novamente.
Seus rios, suas árvores, seus ventos,
antigos guardiões, dançavam com os humanos
como irmãos reencontrados após eras de separação.
Os animais caminharão entre nós
sem desconfiança,
e as estrelas deixarão de ser distantes,
pois os visitantes celestes,
aqueles de olhos que brilhavam como nebulosas,
virão não para governar,
mas para lembrar.
A Economia, antes um monstro faminto,
se transformará em organismo sagrado,
pulsando conforme a necessidade do coletivo.
O ouro perderá seu valor.
O valor passará a ser ouro.
E a escassez será vencida,
não por milagre,
mas pelo simples milagre de ninguém mais querer demais.
Os mais velhos se tornarão árvores anciãs.
Com raízes profundas, sustentarão o céu.
As crianças os escutarão como quem ouve o vento nos bosques,
sabendo que ali moravam verdades que não cabem nos livros.
O nascimento será sagrado.
A morte, reverenciada.
E entre o primeiro e o último suspiro,
a vida dançará com leveza.
Os hospitais se tornarão casulos de luz,
onde se curará com mãos, com plantas,
com frequências sonoras e memórias reequilibradas.
A medicina voltará a conversar com o espírito,
e as dores serão ouvidas antes de serem extintas.
E então, as cidades irão respirar.
Os prédios se vestirão de verde.
O asfalto se curvará à natureza.
As fronteiras se dissolverão
como gelo sob o Sol do reconhecimento.
Ninguém mais será de um país,
mas de um propósito.
O Bem e o Mal
esses antigos personagens da batalha interna,
se sentarão à mesma mesa,
e brindarão à humanidade lúcida.
O juízo final não desceu dos céus,
mas subiu das entranhas da alma.
E não julgou, apenas espelhou.
O bem e o mal foram compreendidos
não como opostos,
mas como os dois lados de um mesmo espelho,
refletindo o caminho da integração.
E, assim, as guerras cessarão não por tratados,
mas porque ninguém mais desejará vencer.
A fé abandonará seus altares de pedra
e passará a morar nas mãos que plantam,
nos olhos que acolhem,
nas palavras que não ferem.
O mistério da vida não precisará mais ser decifrado.
Apenas sentido.
E então, num tempo sem data,
num lugar sem mapa,
um novo mundo emergirá do antigo,
não pelo que construiu,
mas por tudo que ousou desaprender.
Não será a dimensão do fim,
mas do grande relembrar.
Pois o paraíso nunca foi perdido,
apenas esquecido.
E tornará a vibrar.
COM AMOR E GRATIDÃO
WESLEY DINIZ