QUEBRANDO O SILÊNCIO, ESCREVO A MIM MESMA...

Nestes dias de silêncios mais profundos e sentimentos mais intensos, percebo que algo em mim pede passagem. É uma travessia sutil, como quem caminha descalço por dentro da própria alma.

A alegria da Páscoa ainda ressoa, mas não como um canto festivo — e sim como um sussurro que me pergunta: e agora, o que você faz com a luz que resta?

Tenho pensado na brevidade da vida. Na pressa com que passamos pelas pessoas, pelas fases, pelos lugares... e até por nós mesmos.

Penso também nas cruzes que carrego, especialmente as que não se veem. E me pergunto se essa dor que insisto em calar não é, na verdade, mesmo meu médico insistindo que nao me cale, que eu fale, faço então, um tipo de oração muda, pedindo escuta, embora reclamem de mim, palavras que quebram o silêncio e ecoam fortes pelo espaço, é o meu grito preso na garganta, rompendo os grilhões do tempo da espera, já não aguenta mais...

Veja, bem: "O amor que tenho pra dar, é como flexa que corta o ar em silêncio, em busca de um alvo para acertar!" Bem sei que alguns erros cometo, nem sempre acerto, faz parte!

Hoje, algumas palavras inesperadas me atravessaram como flexas flamejantes, talvez ventos contrários — não pelo que disseram, mas por tocarem em um ponto adormecido, vulnerável, que pulsa em mim faz tempo:

Então me faço a pergunta que não quer calar:

Afinal, qual é o meu verdadeiro papel neste mundo?

Para que estou aqui? Quem é o outro que vejo, mas não me enxerga, e não me sente como sou de verdade?

Ou me vê como eu sou — e ainda assim permanece?

Há dias em que me sinto um esboço, verdade. Uma boneca de pano, aguardando que o silêncio que o outro não sente, se quebre dentro de mim, apenas esperando num canto qualquer de um quarto sombrio e frio. Um rascunho em constante tentativa de ser. Outros dias, sou certeza. Mas a maior parte do tempo, caminho entre essas margens.

Talvez sejamos isso mesmo: um processo. E não há problema em sermos inacabados — contanto que não deixemos de buscar o que nos torna inteiros.

Não escrevo esta carta para ter respostas. Escrevo porque preciso olhar com coragem para as perguntas. E, se alguém também se sente assim — um pouco perdido, um pouco em construção —, saiba: não estamos sós.

Com afeto,

Mângela, 22/04/2025