CARTAS QUE NUNCA VOU ENVIAR 2

Ontem à noite nos falamos. Eu provoquei, e você mordeu a isca. Nem queria dormir, fiquei esperando sua resposta, querendo dar continuidade ao nosso diálogo.

Por magia, ou qualquer outra coisa que fosse, eu te sentia como se estivéssemos realmente conectados e tudo já fosse real.

No fim, o sono me venceu. Mas acordei de madrugada, às quatro da manhã, e lá estava: minha notificação preferida. Hesitei em responder, mas não podia deixar a conversa morrer.

Quatro da madrugada pode ser cedo demais ou tarde demais acho que depende da perspectiva. Para mim, era a hora certa.

Adormeci embalada pela esperança e pela paixão crescente.

E então, mais magia, mais encanto: sonhei com você.

No sonho, eu morava em frente ao seu apartamento. Estava de pijama e, ao meu lado, minha senhora favorita minha avó que me entregou uma jarra e um copo, pedindo que eu levasse até você.

Procurei minha melhor roupa e, sim, entrei no seu apartamento branco. Debrucei-me sobre a mesa oferecendo o copo de suco. Você estava rodeado de outras pessoas, mas se inclinou sobre mim.

Segurei firme seu braço tatuado e pude sentir seu calor. Você estava dentro de mim, e eu segurava com força, como se não quisesse te deixar escapar.

Acordei por volta das sete da manhã.

O dia já tinha amanhecido e, pelas frestas da janela, o sol fraquejava seus primeiros raios.

Peguei o celular, e lá estava você novamente: minha notificação preferida.

Nossa conversa agora tinha um tom mais clichê, próximo e misterioso. Não consegui perceber se, do outro lado, você captava minhas emoções, se sentia o mesmo que eu.

Falamos num tom meio perverso, até cairmos na banalidade de um café.

Depois, não tinha mais sono, nem vontade de permanecer na cama.

Levantei, abri o computador e comecei a escrever mais uma daquelas cartas que nunca enviarei.

Por hoje, quero apenas falar de você.

Sei que vou revisitar nosso diálogo várias vezes ao longo do dia, me apaixonando mais um pouco, me entregando mais um pouco.

E juro, não posso imaginar como ou quando essa história acaba. Mas continuo escrevendo.

Josih Romano
Enviado por Josih Romano em 20/04/2025
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