CARTA XXV: Beja, 28 de abril de 1667
A pena desliza sobre o papel, traçando letras que, qual ecos de outrora, retornam ao correio, tal como outrora prometido. Promessas vãs, tecidas em paixões efémeras, que outrora ecoaram nos meus escritos, ora trémulos, ora cegos, qual reflexo de uma alma inquieta.
Jovem donzela, eu era, com os meus dezanove anos, envolta em pudor e vestes alvas, adornadas de rubras filigranas, recém-chegada à vila de Beja. Aos pés do altar, outrora prometi o meu coração a um só homem, aquele que ousasse cingir o meu dedo esquerdo com o anel nupcial. Contudo, o destino teceu encontros fortuitos, e teus sorrisos, e acenos, qual faróis em noite escura, guiaram-me pelas ruas da vila.
Não foi amor à primeira vista, mas a curiosidade que me impeliu a desvendar os teus segredos, a acompanhar-te nos jogos de azar, a testemunhar a tua destreza com as cartas. E assim, no outono que se anunciava, os meus dedos trançaram versos apaixonados, cartas que, qual pombas mensageiras, almejavam alcançar o teu coração.
Duas epístolas, em prosa e verso, entreguei-te, ansiando por um beijo que jamais se concretizou. Em vez disso, a vil inveja de uma rival, que outrora usurpou as minhas cartas, transformou-as em cinzas, qual prenúncio de um destino amargo.
A paixão, qual folha ao vento, dissipou-se com o tempo, e outras ilusões povoaram os meus escritos. Três verões depois, em terras portuenses, a notícia de um fidalgo lisboeta, rendido a meus encantos, surpreendeu-me. Mas a desconfiança, qual sombra constante, impedia-me de entregar o meu coração por completo.
Ainda assim, o amor, qual chama teimosa, reacendeu-se no meu peito, e novas cartas foram escritas, apenas para serem ignoradas. E assim, a busca incessante por um anel nupcial levou-me a caminhos tortuosos, onde a honra se perdeu em lençóis de cores diversas.
Mas o tempo, qual sábio conselheiro, ensinou-me a valorizar a vida, a amar a simplicidade, a buscar a felicidade em mim mesma. E assim, despeço-me, com a esperança de que as minhas palavras, outrora impregnadas de paixão, agora transmitam a serenidade de uma alma que encontrou a paz.
Com a estima que me resta,
Mariana.