Carta Poética ao Juiz das Almas (Baila das aspas)
Essa carta é um processo judicial contra o Brasil que não assina embaixo.
Data venia, Vossa Excelência, mas se eu falasse como escrevo, perderia minha essência. Porém, se pensasse como escrevo, o ser periférico não sentiria incômodo no jugo, nem com o ecoar das notas dissonantes do estalar do chicote. Imagina se todo assalto começasse com um "Data venia, meritíssimo" ao invés de "perdeu, mané"? Pois é, "tamo junto" é a síntese entre verbo e adjetivo, termo de formação de quadrilha, associação entre dois mundos separados pela barreira fedida do "tenebris pacta"—enquanto os narizes elitistas se erguem acima dos fios das togas.
E aí, a favela venceu? Se venceu, não sei. Mas o que sei é que ela anda bem frequentada. Ontem mesmo, um amigo meu deu de cara sem querer com a "Birda"—e essa, quem é? Ora, é o Zé Maria dos "tempora moderna", filha mal parida de um bico de numeração raspada. Só sei que o velório será amanhã, caixão fechado. O beijo dela foi mortal, "estragou a cara". A atração dessa “Birda” é fatal, sem falha, e vem "cem por cento efetiva". Pois é, Excelência, o alvo dos "moderni temporis". não é redondo, nem colorido—é preto, pardo e magrelo. No popular, "o cria"; no B.O., "suspeito armado".
E enquanto os doutores debatem "habeas corpus", o trem-bala do "não vai ter pra ninguém"já partiu da estação. A justiça, ah, a justiça... às vezes parece um "rolezinho" no shopping da razão: todo mundo olha, ninguém entende. E o "causa mortis"? Sempre o mesmo: bala, fome ou tinta de caneta.
Epílogo (ao leitor que se tornou narrador):
Agora que você leu, olhe no espelho. O meu rosto é o seu. A minha voz, o eco da sua garganta engasgada de tanto gritar. Se essa carta doeu, é porque a ferida é nossa. E se arde, é porque ainda sangra.
A justiça que não nos alcança, é a bala perdida que nos encontra.
habeas corpus" poético para as almas condenadas pelo sistema. –Isso não é literatura… “Você pode dizer, ou não,”mas existe poesia crítica nos Beats que embala o senta novinha
“quando a lei deixa de ser cega e faz “stund up comic” de suas sentenças, a poesia vira mandado de segurança para o grito dos excluídos.
“Fechou Meritissimo ”
“Data Venia nua e crua”