Ah, aquele símio...
Minha dileta Pafuncia,
Que os ventos da vida estejam a soprar em tua direção com suavidade e que as horas transcorram plácidas em tua existência. Hoje, tomado por um impulso saudosista, resolvi escrever-te para rememorar nossas peripécias por este vasto mundo, cujas lembranças me enchem de júbilo e riso incontido.
Recordo-me, com um misto de encanto e horror, de nossa incursão pela África, quando nos entregamos ao fascínio de um safari inesquecível. O espetáculo da natureza em seu estado mais puro nos rodeava, e nós, como intrépidos exploradores, sentíamo-nos parte daquela grandiosidade. Lembras-te do festim que nos serviram no hotel, cujo sabor exótico nos pareceu, à primeira degustação, uma iguaria das mais sublimes? Pois bem, ao descobrirmos que havíamos consumido cérebro de macaco, a palidez tomou conta de teu semblante e, não tardaste a passar a noite em uma dança inquieta entre o leito e a latrina. As estrelas daquela terra longínqua foram testemunhas de tua repulsa e da ira que lançaste ao cozinheiro, cujo semblante enigmático me fez crer que se divertia às nossas custas.
E o que dizer daquele inusitado assalto perpetrado por um macaco de habilidades pérfidas? Estávamos nós, absortos, contemplando a magnificência da savana, quando um primata, com destreza digna de um larápio experimentado, aproximou-se sorrateiramente e, num átimo, arrebatou-te a peça íntima, deixando-te entre o pudor e a fúria! Nunca me esquecerei da cena: o símio, vitorioso, brandindo sua conquista qual troféu, enquanto tu, escarlate de indignação, proferias impropérios dignos de uma epopeia.
E ainda, como esquecer nossa incursão ao rio, onde, orientados por nosso guia local, decidimos nos refrescar? O calor abrasador justificava o mergulho, mas o que nos aguardava era algo inusitado. Em dado momento, nosso próprio guia, sem cerimônia alguma, despiu-se completamente e adentrou as águas, revelando, sem o menor pudor, sua anatomia avantajada. Vi teu olhar arregalar-se em um misto de espanto e - ouso dizer? - talvez um pingo de admiração. Fingiste cobrir os olhos, mas teus dedos entreabertos traíam tua curiosidade incontrolável. Ah, Pafuncia, aquele rio guardará segredos que jamais ousaremos confessar!
Se a África nos presenteou com o inusitado, Paris nos envolveu em sua elegância e esplendor. Nossa contemplação da Torre Eiffel foi como um sonho que se materializava; o ícone da Cidade Luz resplandecia ante nossos olhos maravilhados. No entanto, o ápice da experiência foi quando, encorajada pelo entusiasmo, decidiste subir ao topo. Ah, Pafuncia! Quem diria que a brisa gélida e a altura descomunal fariam-te perder o tino? O pânico tomou conta de teu espírito, e, antes que percebêssemos, os bombeiros entravam em cena para conduzir-te, qual uma relíquia frágil, de volta à segurança do solo firme . O riso contido dos turistas e seus celulares apontados selaram teu destino digital: um meme que, temo dizer, jamais será esquecido pelo vasto universo da internet. Um pequeno parêntese: Aliás, já terminastes de pagar a cobrança que resebestes do consulado francês, pelo resgate?
Ainda lembro de nossas caminhadas pelas margens do Sena, dos cafés charmosos onde nos entregamos a doces conversas, especialmente no Café de Flore, cuja aura boêmia e histórica nos envolveu em uma atmosfera de encantamento. Mas nem tudo foram deleites tranquilos, pois foi ali mesmo que aquela sirigaita parisiense (como tu mesmo a chamaste), de modos audaciosos, ousou lançar-me uma piscadela provocante ao passar por nós. Lembro-me bem de teu olhar fulminante e do modo como resmungaste, indignada, sobre a desfaçatez da francesa atrevida. Ah, minha amiga, que seria da vida sem esses pequenos dramas?
Ah, antes que me esqueça, preciso perguntar: já conseguiste consertar tua dentadura depois daquele infortúnio no Procope? Jamais esquecerei o instante fatídico em que, no meio de animadas conversas com nossos amigos, ela despencou subitamente, silenciando a mesa e arrancando risadas contidas dos demais convivas. Espero que a tenhas recuperado sem maiores dissabores!
Com carinho e saudades,
Teu sempre amigo,
Zé