O Peso do Silêncio
O silêncio pesa diferente dependendo de quem o impõe. O dele sempre foi leve, distraído, como quem fecha um livro sem perceber que há alguém lendo por cima do ombro. O meu, não. O meu silêncio é denso, reverbera no peito como um eco preso entre paredes que não devolvem resposta.
Não houve um estouro, nem uma cena grandiosa. Nenhum grito de dor, nenhuma despedida dramática. Só o silêncio, se instalando como um veneno lento, sufocando tudo o que antes era barulho e vida. E a ausência dele, essa ausência que me rasga, não veio como uma ausência comum – ela se espalhou como um apagamento. Ele foi se esvaindo de mim, primeiro nas respostas espaçadas, depois no olhar que já não brilhava tanto quando via o meu nome na tela. Por último, no nada.
Mas o que mais dói não é o silêncio em si. É o que ele carrega. O silêncio dele diz: não há mais nada aqui para você. O meu grita: e eu ainda tenho tudo seu dentro de mim.
Talvez seja isso o que define o amor que não foi feito para durar. Um dia, um dos dois para de querer, e o outro é deixado para trás, amando sozinho, segurando nos braços um fantasma que ninguém mais vê.
E o que se faz com um amor que não cabe mais no mundo? O que se faz com um nome que ainda pesa na língua, com um apelido que quer escapar dos lábios, mas já não tem para onde ir?
Chamavam ele de Augusto. Chamavam ele de Guto. Eu chamei de Buba.
Mas agora, ele é só silêncio. E eu sou o que resta quando se ama o que já partiu.