Carta para um desamado
Caro Desamado,
O que senti por você foi imenso, um rio que corria sem margens, transbordando de tudo que é sentimento. Éramos um encaixe perfeito, peças que se completavam em um quebra-cabeça que parecia infinito.
Nossos papos, no início, eram cheios de ideias interessantes e risos. Cada palavra era uma porta que abria um universo.
A admiração mútua era gritante e os planos de fazer coisas grandes juntos eram as sementes que plantávamos em um jardim que imaginávamos eterno.
Amava nossas saídas inusitadas, aqueles momentos roubados da rotina, em horários malucos, quando o mundo parecia dormir e só nós estávamos acordados.
E o amor... ah, o amor era tão grudado, tão quente, tão nosso. Era como se o tempo parasse e só existíssemos nós dois, em um abraço que não tinha fim.
Mas, como tudo que é intenso, começou a desmoronar. Primeiro, as mentiras. Elas vieram sorrateiras, como sombras que se infiltram sem pedir licença. Depois, as traições, as conversas tórridas com outras mulheres, as palavras de amor que não eram mais minhas. O seu ciúme, a posse, o controle — tudo isso foi crescendo, como uma tempestade que não avisa quando vai chegar. Os "foras" começaram a doer mais do que deveriam, e então... veio um soco.
Quis morrer naquele momento. Não pelo golpe em si, mas pelo que ele significava: o fim de tudo que acreditávamos ser. Junto com tapas, xingamentos, as unhadas no rosto. A agressão era uma facada na minha alma, uma parte de mim que foi embora e nunca mais voltaria. O sentimento era de estar abortando um filho.
Não sabia que seria assim. Nunca imaginei que o prazer de estar junto pudesse se transformar em algo tão feio, tão dolorido.
Quase perdendo o juízo, como se a tristeza tivesse tomado conta de cada pedaço de mim. Minha alma ficou cansada, machucada, quase sem forças para seguir em frente. Mas ainda respiro. E, talvez, um dia, eu consiga reconstruir o que foi quebrado.
Eu olho pra o chão e me vejo aos cacos.
Talvez um dia, eu encontre de novo a luz que um dia foi nossa. Até lá, sigo, mesmo que aos tropeços, tentando encontrar um novo sentido para tudo isso.
Talvez eu te veja mais velho e passemos direto um do outro, talvez a gente chore ao se ver…
Ou até nunca mais.
Meu grande desamado!