Eu não queria desistir.

Esse pensamento me assombrava dia após dia, inescapável. Eu queria viver, acreditando—ou ao menos tentando acreditar—que o mundo era um lugar um pouco melhor com a minha presença. Mas, acima de tudo, não queria desistir porque, no mais profundo do meu ser, eu compreendia o estrago irreversível que isso deixaria para trás.

Existem noites em que tudo dentro de mim desmorona, se parte em fragmentos que nunca se recompõem. São nesses momentos que o peso do mundo se torna insuportável, e tudo o que consigo fazer é suplicar, ao céu, ao infinito, a um Deus, pela minha liberdade.

Queria entender o silêncio que se apodera da minha alma nesses dias, mas a dor sufocante me impede até mesmo de clamar por ajuda. O caos me envolve, me consome.

Os dias já não me trazem alegria.

Eu acordo, mas a vontade de seguir em frente já não é a mesma.

São nesses dias, quando a dor de existir pesa mais do que a própria existência, que sinto vontade de desistir.

Consigo enxergar o vazio que isso deixaria para trás. Vejo o impacto nos olhos da minha mãe—ela não suportaria, e como poderia? Sei o estrago que minha ausência causaria, compreendo cada detalhe dessa dor. E, ainda assim, egoistamente, anseio, rogo, me despedaço.

Meu pai se perderia em um labirinto sem saída, atormentado pela pergunta inevitável: Onde foi que eu errei?

Minhas irmãs carregariam essa marca para sempre.

Eu entendo a dor da partida. E, mesmo assim, quero ir.

Mas há dias em que a dor não sufoca tanto, em que o peso diminui o bastante para que eu consiga respirar, para que um sorriso, ainda que tímido, escape. Existem dias bons. E são essas pequenas fagulhas que me seguram aqui, que me dão um motivo—mesmo que frágil—para continuar.

E são nesses dias bons que agradeço pela aventura que é viver. Espero permanecer por aqui por muitos anos, permitindo-me sentir cada instante, cada respiração.

Os dias bons chegam como um lembrete sutil: até a dor de existir tem seu papel. Porque existir não é apenas sobre os momentos leves, mas também sobre atravessar as sombras e, de alguma forma, encontrar significado nelas.

A dor não define a existência, mas a atravessa. Ela molda, rasga, transforma. Há dias em que tudo parece ruína, e há outros em que a luz consegue se infiltrar pelas rachaduras. Talvez a vida seja isso: um constante equilíbrio entre os extremos, entre o peso da tristeza e a delicadeza da esperança.

Aprendo, aos poucos, que a vida não exige de mim uma felicidade inabalável, mas sim a coragem de continuar, mesmo quando tudo parece vazio. Aprendo que cada dia bom, por menor que seja, é um sopro de fôlego, um lembrete de que há algo além da dor.

E assim, sigo. Mesmo com cicatrizes, mesmo com os dias difíceis. Sigo porque, de alguma forma, ainda há beleza no caos.