Carta para você, que se perdeu e se encontrou em mim.
Eu, que talvez tenha sido um reflexo distorcido de tudo o que você ainda não sabia sobre si mesmo. Você, que me olhou e viu algo que nem eu mesma sabia que existia dentro de mim. Não éramos duas pessoas que se encontraram, éramos duas versões de uma mesma busca — você tentando se encontrar e eu tentando entender o que estava acontecendo, sem saber se o que sentia era real ou apenas algo construído nas entrelinhas de um silêncio que nos engoliu.
Você me deu o que pensou que era amor, mas eu não soube como segurar. Eu tentei entender, mas o que ficou entre nós foi apenas a incompletude, como se cada palavra que trocávamos fosse uma tentativa falha de preencher o vazio que, por mais que tentássemos, continuava lá. Como um abismo que se alargava a cada passo, a cada gesto que não se encontrava.
Mas então, no meio disso tudo, você se afastou. Como se, de repente, eu já não fosse mais o que você precisava. E eu, que vi isso chegando, percebi que o meu lugar nunca foi de preencher um vazio em você, mas de mostrar que você mesmo nunca soube como olhar para si. Eu te vi tentando se resgatar através de mim, procurando uma resposta nas minhas falhas, tentando transformar o que não havia sido vivido em algo possível, e talvez eu tenha sido, de certa forma, uma tentativa sua de corrigir algo que nunca esteve quebrado de verdade. Só estava mal interpretado.
Eu queria, de alguma forma, que você visse além das suas máscaras, que se olhasse sem as mentiras que contou para si mesmo durante tanto tempo. Mas isso não aconteceu. Não porque você não quisesse, mas porque ainda não sabia como se enxergar sem todas essas histórias que o impedem de ser quem realmente é.
E quando você tentou voltar, já não era o mesmo. Eu já não estava mais ali, não porque eu tivesse me afastado por orgulho ou raiva, mas porque o que eu queria de você já não era mais algo que você podia me oferecer. Eu queria mais do que você estava pronto para me dar, e o mais importante — eu queria que você fosse capaz de ver o que me fez ser, de entender que não fui só um reflexo seu. Eu fui eu mesma, e não deveria ter sido uma sombra daquilo que você esperava de mim.
Eu não sei se você me entende, se alguma vez entenderá. Talvez você olhe para trás e se pergunte o que aconteceu, o que foi que nós realmente fomos. E eu, sinceramente, não sei se posso te responder. O que posso dizer é que, de tudo, o que ficou em mim foi a lição silenciosa que você me deixou: as coisas não precisam ser concretizadas para nos marcarem. O que ficou foi o eco daquilo que nunca foi, mas que, de alguma forma, me fez aprender algo sobre mim que eu não sabia.
E talvez, no fim, tenha sido isso. Não o que poderia ter sido, mas o que se tornou. Não o amor, mas o silêncio de algo que não precisava ser dito. O que ficou não foi você, nem eu, mas o que aprendemos com a ausência, com o que não conseguimos encontrar, com o que nos escapou pelas mãos.
Talvez um dia você entenda. Ou talvez não. E tudo bem. Porque, no fim, o que importa é o que ficou em nós dois. E é isso que carrego comigo.