TESTEMUNHO CRISTÃO: Saudade de meu irmão Rômulo
Tenho muita saudade de meu irmão Rômulo, mas existem momentos que são mais difíceis de aceitar a distância, a minha formatura e agora o meu casamento. Às vezes fujo para não sofrer tanto. Sei que é uma grande bênção ter um irmão no céu, e sei que ele está mais presente do que imagino e desejo, porém não é fácil essa distância física. Creio que um dia estaremos juntos para sempre, mas até lá é preciso continuar a luta. Quero recorda contigo um pouco dos 13 anos em que tivemos a graça de tê-lo nessa vida.: Tu nascente um ano e nove meses depois de mim e foi grande a alegria de ganhar um parceiro para as minhas aventura! Logo bebê, a mamãe me pegou te dando bolacha no berço. Eu queria cuidar de você. Estávamos sempre grudados; por isso, quando fui para escola, a mamãe teve que te colocar também, pois você chorava a manhã toda. Você ia dormindo, mas nos intervalos eu ia lá te ver e isso era o suficiente. Foram muitas aventuras! Lembra quando entramos escondidos no escritório do papai e bagunçamos tudo? E quando a mamãe pegou a gente todo riscado de canetinha, gritando: ‘É os índios!’
Lembra quando você caiu do velocípede andando comigo? Você era medroso, mas sempre topava as minhas loucuras. Gostava de se esconder atrás de mim... E as férias? Sempre em Picos, é claro! Quantos momentos inesquecíveis no Casarão... Então veio o Remo e você se tornou inseparável dele. Vocês brincavam e brigavam, mas não podiam estar longe um do outro. Mesmo eu sendo mais velha, você era minha companhia masculina. Eu não saía só de casa. Você ia me deixar e buscar do ballet. Já no colégio, você me esperava com muita paciência quando eu tinha os ensaios da dança, e mesmo com fome nunca reclamava. Até os meus 15 anos, eu nunca tinha andado sozinha, nem sabia pegar ônibus. Meu grande sonho era minha festa de 15 anos. Quando ainda faltava um ano, eu desisti de tudo. A mamãe, muito religiosa, resolveu encomendar uma missa em ação de graças por meus quinze anos e depois sairíamos para jantar fora. Você nos ajudou a escolher o meu vestido. Tudo certo para o dia três, pois a igreja estaria fechada em meu aniversário, quatro de maio. Você teria sua aula de natação. Todos pediram para você não ir. O chamado de Deus foi mais forte, você pulou o muro da casa do seu amigo Serginho, onde jogavam ‘vídeo game’.
Eu estava em casa me arrumando para a missa, quando recebi a notícia que você tinha sido levado para o hospital. A mamãe que estava arrumando a igreja, já foi de lá mesmo, o papai saiu do trabalho e foi direto pro hospital. Eu nem ia mais pra missa quando a tia Cleonice veio me pegar dizendo que a mamãe ia depois. Passei a missa toda olhando para trás para ver se ela estava chegando. Somente no final fiquei sabendo que você não estava mais conosco. Eu desmaiei com o susto. Tudo então virou um pesadelo. A mamãe sem saber, quando não deixaram ela te ver no hospital, passou a noite toda ao lado da UTI, esperando alguma notícia... Lá teve uma visão: viu você todo de branco e Jesus soltando raios de luz sobre ela e você. Assim ficou sabendo que você tinha partido sem falar com ela. O papai disse que queria você todo de branco, de manhã o tio Assis foi pegar a mamãe dizendo que tinha 13 cirineus para ajudá-la a carregar a cruz. O Remo tinha nove anos e não teve reações, mas depois teve que fazer muitos tratamentos. O papai agüentou tudo, mas depois do enterro quase vai também. Ele foi para a UTI, muito mal. Cinco anos depois, morando em São Luís – Maranhão, durante um retiro espiritual, o papai recebeu oração de uma desconhecida que teve uma visão de um menino de 13 anos brincando com o pai quando chega Jesus e diz: ‘ESTE É MEU!’ Na visão você corria feliz para os braços de Jesus.
Eu, uma menina imatura e mimada, tive que segurar tudo. Todos diziam que eu tinha que ser forte, mas como ser forte se era você que me protegia? Eu me vi só. Guardei tudo no silêncio, e somente muito tempo depois fui ver quanta mágoa eu tinha de Deus. Hoje já estou curada pelo amor de Deus e sei que se hoje sou consagrada a Deus é porque você esteve do meu lado todos esses anos. Obrigada por lutar comigo e por ser o anjo da guarda da família Bené. Intercede por nós, para um dia estarmos aí também. Sou feliz por ser sua irmã. Te amarei até o céu.
Aline S. Rodrigues
Publicado em Genealogia e memória de uma família.(2006
LIMA, Adalberto (org);SOUSA, Neomísia