CURA DE UM AMOR
CURA DE UM AMOR
Amar foi fácil. Difícil foi aceitar que nem todo amor dura para sempre. Durante meses, ela carregou um peso no peito, como se cada memória fosse uma pedra que não podia deixar cair. As músicas, os lugares, até os cheiros – tudo parecia gritar o nome dele.
Mas um dia, enquanto caminhava sozinha por uma rua que nunca havia percorrido, algo mudou. O vento tocou seu rosto, e ela percebeu que havia passado minutos inteiros sem pensar nele. Foi uma sensação estranha, como se o coração tivesse tirado um cochilo da dor.
A cura não veio de uma vez. Foi como uma chuva fina que aos poucos limpava a poeira acumulada. Ela começou a escrever cartas para si mesma, relembrando quem era antes de tudo. Aprendeu a amar o silêncio, a se olhar no espelho sem enxergar falta.
E, numa manhã de domingo, ao tomar seu café, ela finalmente entendeu: o amor não estava perdido. Ele estava se reconstruindo, pedaço por pedaço, dentro dela mesma
Mas a verdade é que a cura também tem suas armadilhas. Porque naquele mesmo domingo, entre os goles de café, ela lembrou do sorriso dele. Da maneira como ele a olhava, como se ela fosse a única coisa que importava no mundo. E então veio a pontada, aquela dor que ela pensava ter esquecido.
Porém, desta vez, algo era diferente. Ela não chorou. Em vez disso, segurou a xícara com firmeza e encarou a janela. Não havia soluços, apenas um vazio que não assustava mais. Ela sabia que o amor ainda estava ali, mas agora, ele não era maior do que ela mesma.
E foi ali, naquele instante silencioso, que percebeu: a cura não é apagar o que foi. É aceitar que certas marcas ficam, mas elas não definem quem você é. E, com isso, ela sorriu. Porque o mundo, finalmente, parecia grande o suficiente para ela seguir em frente.