Falando sem aspas

Mamãe

Aqui sou eu, a tua filha mais velha falando-te sem aspas, amando-te sem reticências ou questionamento e desvairando em busca de conforto silenciosamente.

Esta é mais uma carta que te escrevo depois de 30 dias da tua partida para a morada do Pai, como se fosse fácil, sentir-me assim dividida em duas partes: instrumento que ora toca com harmonia e ora desafina.

Esta sou eu, enquanto a metade fica querendo agir pela razão, a outra parte desmancha-se em saudade alimentada pela emoção. Houve um tempo em que eu tinha um temor vergonhoso de mostrar que era medrosa porque achava vexatório, mas eu sabia que estarias sempre lá, de braços abertos para me acolher quando eu fraquejasse, mesmo que eu não quisesse demonstrar a minha fraqueza.

Hoje não me preocupo mais com o vexame porque sinto prazer que tenhas sido a minha mãe e não tenho vergonha de demonstrar o meu amor por ti.

Muitas vezes tentei esconder de ti, o choro pela dor de desenganos e de tristezas, para poupar-te de chorar junto comigo.

Hoje eu choro e não domino meus pensamentos que são lembranças de tudo o que compartilhamos; e a melancolia pela nossa separação não consentida, causa-me silêncios, mas nem sempre seca os meus canais lacrimais.

A tua partida, minha querida mãe, ainda dói profundamente. Dizem que um dia essa dor passará... Será?

Mamãe, apoio-me na minha fé com a esperança de que te encontres ao lado do Pai Eterno e da nossa Mãe Maria Santíssima, orando por nós que aqui ficamos preenchidos de saudade, mas munidos pela fé e abastecidos por teus ensinamentos.

Sou grata meu Deus, pela mãe maravilhosa que me deste e pelos 93 anos que permitiste que ela estivesse entre nós.

Obrigada Senhor!

Umbelina Marçal Gadêlha

Floriano, 9 de fevereiro de 2025